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Juros longos fecham em alta com piora da percepção sobre o risco fiscal

As preocupações com o cenário fiscal sustentaram aumento da inclinação da curva de juros durante toda a terça-feira, 4, com alta de taxas nos vértices intermediários e longos e estabilidade na ponta curta. A possibilidade da extensão do pagamento do auxílio-emergencial até o fim do ano e da prorrogação do estado de calamidade pública até 2021 e as ameaças ao teto de gastos, considerado a grande âncora fiscal do País, trazem desconforto ao investidor. O resultado da indústria em junho melhor do que o esperado não trouxe alterações no quadro de apostas para a Selic no Copom de amanhã, mas para setembro caiu um pouco a probabilidade de corte da taxa básica.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021, que melhor capta as apostas para as próximas reuniões do Copom, encerrou em 1,915%, de 1,893% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 3,652% para 3,76%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 6,18%, de 6,062% ontem.

Num dia de véspera de Copom, um avanço da produção industrial acima da mediana das estimativas, em tese, tinha tudo para chacoalhar o mercado e pesar no quadro de apostas para a Selic, mas a curva segue projetando 80% de chance de corte da Selic amanhã em 0,25 ponto porcentual e 20% de possibilidade de manutenção no atual patamar de 2,25%. Para o Copom de setembro, as chances de queda de 0,25 ponto caíram marginalmente de ontem (30%) para hoje (26%). Os cálculos são do Haitong Banco de Investimentos.

A produção avançou 8,9% em junho ante maio, acima da mediana das previsões (+7,8%). Porém, o IBGE destaca que o avanço de 17,19% acumulado nos últimos dois meses é insuficiente para recuperar a perda de 26,6% registrada nos meses de março e abril.

“A PIM veio um pouco melhor do que o estimado, mas hoje foi o fiscal mesmo que pesou, com muita notícia ruim”, afirmou a gestora de renda fixa da MAG Investimentos, Patricia Pereira. A informação de que o governo estuda estender o auxílio emergencial até o fim de 2020, mas com valor de R$ 200, apurada pelo Estadão/Broadcast, trouxe desconforto. Segundo Patricia, o ponto é que a redução necessita de autorização do Congresso. “Não basta o executivo querer”, afirmou.

Também pegou mal a possibilidade de o Congresso adiar o decreto de calamidade pública no País para 2021. Com isso, o governo não precisaria cumprir a regra de ouro nem fazer bloqueios no orçamento para atingir a meta fiscal também no ano que vem.

Para Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimento, pela gravidade da situação até que o aumento da inclinação foi modesto. “Os juros subiram pouco perto do que pode ser o problema”, avalia. “Claro que ainda há vários ‘senões’, não há nada ainda confirmado”, afirmou, ponderando que o silêncio do governo, que não confirma nem nega as informações, pode dizer muita coisa.

Por Denise Abarca

Estadão Conteúdo

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