Preocupado com as eleições presidenciais dos EUA, o embaixador Todd Chapman pediu a integrantes do governo brasileiro para que as tarifas de importação do etanol americano sejam reduzidas a zero. Atualmente, há isenção para até 750 milhões de litros por ano, mas a partir daí a tarifa é de 20%. Entre os argumentos usados por Chapman está a importância para o governo Bolsonaro da manutenção de Donald Trump na presidência americana.
De acordo com fontes do governo, o assunto foi abordado ontem durante reunião entre os ministros Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina (Agricultura), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
A informação foi revelada pela coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, e confirmada pelo Estadão/Broadcast. Procurados, o Palácio do Planalto, o Itamaraty e o MME não se manifestaram.
No encontro, segundo um participante do encontro, foi avaliado que o pedido do embaixador dos EUA “não tem cabimento” e é tratado como algo “impossível” dentro do governo. A mesma fonte afirmou que o governo deve defender o interesse dos brasileiros, e não atender a um pleito que beneficia, com interesses eleitorais, outro país.
O etanol americano vem do milho, cuja produção já é mais barata que o brasileiro, da cana-de-açúcar, e ainda recebe subsídios. A pandemia reduziu a demanda e, consequentemente, os preços de gasolina e etanol. O atendimento à demanda seria uma forma de obter apoio dos agricultores do Meio-Oeste dos Estados Unidos, um grupo que é importante base de apoio de Trump e que está revoltado com a ajuda anunciada pelo governo às refinarias.
Reeleição difícil
As eleições presidenciais estão marcadas para 3 de novembro, e as pesquisas mostram que Trump terá dificuldades para se reeleger em meio à pandemia da covid-19, que já registra 4,450 milhões de casos confirmados e 151 mil mortes no país, ranking liderado pelos EUA em ambos os casos. Seu adversário, o democrata Joe Biden, tem conquistado apoio mesmo de Estados historicamente ligados aos republicanos.
O Brasil importou 810,9,2 milhões de litros de etanol dos Estados Unidos neste ano. No ano passado, foram 1,443 bilhão de litros, mas os números vem caindo ano a ano desde 2017, quando as importações atingiram a marca de 1,8 bilhão.
A produção média de etanol nos EUA atingiu a marca de 931 mil barris por dia no início de julho. No ano passado, os americanos exportaram 5,59 bilhões de litros, queda de 14% ante 2018, quando houve recorde de 6,47 bilhões de litros. Foi a primeira queda desde 2015.
O atendimento à demanda americana teria forte impacto sobre os produtores brasileiros, principalmente os do Nordeste. O preço médio de exportação de etanol nos EUA foi de US$ 410 por litro em junho, o menor entre todos os produtores mundiais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Julia Lindner e Anne Warth
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