O Grupo Santander registrou um prejuízo inesperado de 11,13 bilhões de euros no segundo trimestre deste ano. De acordo com projeções levantadas pela FactSet e publicadas pela Dow Jones Newswires, o conglomerado espanhol deveria ter registrado um lucro líquido de 838 milhões de euros no período. De janeiro a junho, o resultado ficou negativo em 10,798 bilhões de euros. A instituição informou que registrou um custo de perdas não-monetárias e não recorrentes de 12,6 bilhões de euros no primeiro semestre do ano por causa da deterioração da perspectiva econômica causada pela pandemia de covid-19.
O resultado foi de uma perda estatutária atribuível de 10,8 bilhões de euros nos primeiros seis meses de 2020. “Isso não tem impacto na liquidez do banco ou nas posições de risco de crédito e também não afeta o índice de capital CET1”, garantiu a instituição em comunicado, referindo-se a um padrão regulatório de Basileia.
Por outro lado, o surto do novo coronavírus ajudou a acelerar o uso de serviços online do conglomerado espanhol, que agora conta com 40 milhões de clientes digitais, um incremento de 15% em relação ao ano passado. Desse total, conforme o grupo, mais de 32 milhões agora usam os serviços do banco pelo celular, um incremento de 22%. Quase metade (47%) das vendas no segundo trimestre ocorreu por meio de canais digitais, de acordo com o Santander, uma elevação de 11 pontos percentuais ante 2019.
O Grupo Santander também informou ter registrado um lucro subjacente de 1,531 bilhão de euros no segundo trimestre do ano, o que representou uma queda de 27% em relação aos mesmos três meses de 2019 ou um recuo de 15% sem considerar o impacto cambial do período. No primeiro semestre, o lucro do banco espanhol foi de 1,908 bilhão de euros, uma contração de 53% em relação à primeira metade do ano passado ou de 48% sem contar com a variação das moedas.
A diminuição do resultado de janeiro a junho foi atribuída pelo conglomerado ao aumento das provisões para perdas com empréstimos relacionadas com a pandemia de covid-19. “Embora a pandemia tenha tido um significativo impacto na atividade do cliente, o desempenho subjacente dos negócios foi forte, apoiado por recursos resilientes, receitas de clientes, reduções de custo acima do esperado, qualidade de crédito robusta e boa geração de capital orgânico”, avaliou a instituição financeira.
O lucro operacional líquido do banco foi de 11,9 bilhões de euros no primeiro semestre, um aumento de 2% em uma base de moeda constante. “Embora a lucratividade subjacente na maioria dos mercados tenha sido impactada pela pandemia, a diversificação do grupo e as linhas de negócios continuaram sendo um ponto forte.”
Santander Brasil
O lucro subjacente do Santander Brasil caiu 17,4%, para 995 milhões de euros no primeiro semestre do ano considerando a moeda constante. De acordo com o conglomerado espanhol, a baixa se deve ao aumento das provisões para perdas com empréstimos em um ambiente de crise gerada pela pandemia de coronavírus.
O lucro subjacente atribuível do conglomerado espanhol no Brasil somou 478 milhões de euros no segundo trimestre do ano, um recuo de 37% em relação aos 762 milhões de euros registrados em igual período de 2019. Apesar da baixa, o grupo enfatizou que o retorno sobre o patrimônio tangível (RoTE) no País foi de 17,1%. “A receita operacional líquida aumentou 5%, impulsionada pelo crescimento de dois dígitos no volume de empréstimos e depósitos de clientes, refletido na receita financeira líquida e ganhos em transações financeiras, além de melhorias na eficiência.”
O Grupo também informou que a América do Sul contribuiu com 45% do lucro da instituição na primeira metade de 2020, um total de 1,383 bilhão de euros (queda de 13% em relação ao mesmo período de 2019). A atividade do banco na Europa foi responsável por 35% do lucro atribuível (1,075 bilhão de euros, queda de 54%) e a na América do Norte, por 20% (617 milhões, baixa de 29%). Ao contrário do que fazia há anos, o Santander não informou desta vez qual foi a parcela de participação dos países no lucro atribuível ao grupo.
O banco continua com seu plano de redução de custos, com a região europeia atingindo mais de 300 milhões de euros em eficiência na primeira metade do ano, o equivalente a 75% de sua meta para 2020. As despesas operacionais caíram 2% ou 5% em termos reais, excluindo-se a inflação.
Período desafiador
A presidente executiva do Grupo Santander, Ana Botín, avaliou que os últimos seis meses estão entre os mais desafiadores da história da instituição. A avaliação foi feita por meio de comunicado junto com a divulgação dos números do conglomerado espanhol para o período. “O impacto da pandemia nos testou em tudo e tenho orgulho de como o Santander respondeu”, descreveu.
Ela mencionou o desejo do conselho de propor um “scrip dividend” equivalente a 10 centavos de dólar por ação em 2019, a serem pagos este ano. Também enfatizou que o conselho está comprometido em aplicar uma política de dividendos a 100%, assim que as condições de mercado se normalizarem. “Continuamos confiantes sobre o potencial de criação de valor em nossos negócios. Estamos acelerando nossa transformação e planejamos alavancar nossa escala e os pontos fortes coletivos de nossos negócios regionais e globais, com foco em simplificar as operações e melhorar a experiência do cliente, a fim de crescer lucrativamente com maior eficiência.”
Por Célia Froufe, correspondente
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