Dois eventos ligados ao sistema financeiro vão definir o comportamento dos mercados nesta quarta-feira (29). Um deles é a entrevista coletiva concedida por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ao fim da reunião de dois dias do Federal Open Market Committee (Fomc), equivalente ao nosso Comitê de Política Monetária.
Não são esperadas grandes novidades nas taxas referenciais de juros dos Estados Unidos, que deverão permanecer no patamar atual, que vai de zero a 0,25% ao ano. No entanto, o que realmente interessa aos investidores não são os números, mas as palavras. Mais especificamente, a avaliação de Powell sobre a trajetória de recuperação da economia americana para os próximos trimestres. A expectativa é que as políticas de incentivo à economia se mantenham: juros próximos a zero e mais injeções de dólar na economia. O resultado tem um impacto direto sobre as taxas globais de câmbio, com a desvalorização do dólar frente às demais moedas.
Os investidores também discutem a possibilidade de o Fed passar a praticar juros negativos nos Estados Unidos. No curto prazo, as taxas referenciais estão perto de zero. Porém, os títulos do Tesouro americano de dez anos, que são os papéis mais negociados e servem de parâmetro para o mercado, ainda registram juros levemente positivos, de 0,6% ao ano. É pouco, mas ainda está acima das taxas no Japão e em vários países da Europa. Qualquer sugestão por parte de Powell de que o Fed pode vir a ser mais agressivo no afrouxamento da política monetária, negativando os juros americanos, pode provocar uma inundação de recursos nos mercados acionários.
Essa redução estrutural das taxas nos Estados Unidos pode ter consequências mais profundas do que parece à primeira vista. Tomemos, por exemplo, os muito necessários investimentos em infraestrutura no Brasil. O País precisa construir estradas, pontes, portos e aeroportos, melhorar seu saneamento, reforçar a geração e a transmissão de energia. A lista é interminável e tudo isso requer investimento privado, que só comparecerá se houver expectativa de retorno financeiro.
Se essa expectativa for “alta” – não apenas em termos absolutos, mas relativamente à rentabilidade dos ativos livres de risco do país de origem – ela compensará até a eventual insegurança jurídica brasileira. No Brasil, dizia o ex-ministro Pedro Malan, até o passado é imprevisível. Porém, se houver a promessa de um bom retorno, mesmo esses riscos são suportáveis. E, obviamente, com juros negativos nos Estados Unidos, qualquer aplicação se torna automaticamente mais interessante em termos relativos.
Confiança da indústria
Em julho, a confiança da indústria apresentou o segundo maior crescimento da série histórica. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 12,2 pontos em julho, para 89,8 pontos. A média móvel trimestral também voltou a crescer, após quatro meses em queda, e avançou de 65,7 pontos para 76,3 pontos.
Em julho, 18 dos 19 segmentos industriais pesquisados tiveram aumento da confiança. O resultado decorre da melhor avaliação dos empresários sobre o momento presente e da diminuição do pessimismo para os próximos três e seis meses. O Nível de Utilização da Capacidade instalada (Nuci) subiu 5,7 pontos percentuais, avançando de 66,6 por cento para 72,3 por cento.
A expectativa de manutenção ou de afrouxamento da política monetária nos Estados Unidos, e as boas perspectivas quanto à aprovação do pacote de ajuda de US$ 1 trilhão pelo Congresso americano fazem os pregões operarem em alta na manhã desta quarta-feira (29).
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