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Para especialistas, volta ao trabalho sem escolas para crianças é ‘preocupante’

Uma das questões mais preocupantes na discussão sobre a volta ao trabalho presencial, segundo os especialistas, é a situação de mães e pais que não têm como deixar o home office sem que as escolas voltem com as atividades normais.

“Já era difícil equacionar família e carreira, agora ficou pior. Todo mundo tinha a ilusão de que quando está no trabalho está no trabalho, quando está em casa está em casa. Mas a quarentena mostrou que está tudo interligado e que é impossível estar bem em casa se não está bem no trabalho e vice-versa”, explica Flavia Deutsch.

Ao lado da sócia, Paula Crespi, ela criou no último ano a Theia, uma plataforma digital que promove soluções em rede para pais e mães que trabalham, com profissionais dedicados às necessidades dos pais, como psicólogos, pedagogos e pediatras. Até a pandemia, o serviço era disponibilizado apenas para as empresas, que fazem a contratação para seus funcionários. Com as dificuldades da quarentena, ele foi ampliado também para pessoas físicas. A empresa também desenvolveu um guia gratuito de como planejar a volta ao escritório.

“Tem um grande desafio que é: como pais e mães voltam para o escritório sem voltar creche e escola? Como você tira um pai e uma mãe de casa, sem ter onde deixar o filho?”, questiona. Flavia conta que, em contato recente com uma grande varejista brasileira, com lojas no País inteiro, essas questões apareceram.

“Eles têm muitas vendedoras mães e fizeram uma pesquisa para saber quem poderia voltar a trabalhar presencialmente e 90% das mulheres responderam que podiam voltar no dia seguinte. Mas a própria empresa sabia que era mentira. Existe uma questão de sobrevivência que se sobrepõe porque existe uma necessidade maior de colocar comida na mesa”, aponta.

A advogada C.R., de 33 anos, não teve escolha. Mãe de uma criança de dois anos, foi obrigada pelo escritório a voltar ao trabalho presencial no início de junho, mesmo após os resultados de maior produtividade no home office. “Eu tentei argumentar que não havia escola e nenhum lugar para deixar o meu filho e cheguei até a pensar em pedir demissão. A ordem foi de que as pessoas se virassem sob o argumento de que o emprego neste momento é muito importante diante da crise do País.”

Desde o último mês, C.R. vai ao escritório três vezes na semana e deixa o filho com a mãe. “Hoje, a realidade é que eu pego transporte público e exponho o meu filho e a minha mãe ao risco de contágio”, conta.

Transparência

“Ao mesmo tempo que há pais e mães que não conseguem voltar para o escritório, temos quem está sozinho em casa e está desesperado para voltar. As empresas estão tendo de conciliar quem não pode voltar com quem não quer voltar e quem está desesperado para voltar. Não é uma decisão trivial óbvia não voltar completamente ou voltar completamente”, explica Flavia.

Para isso, os especialistas consultados concordam que o melhor caminho é ouvir o que os funcionários têm a dizer. Uma pesquisa feita pela consultoria Great Place to Work (GPTW), e divulgada com exclusividade ao Estadão, ouviu 72.411 funcionários de 181 empresas para entender como eles percebem a gestão das empresas durante a pandemia. Entre os respondentes, 89% acreditam que, embora não haja respostas para o futuro, a empresa está no caminho certo. Outros 6% reconhecem as dificuldades, mas confiam na empresa para buscar a melhor solução.

Já 3% veem ausência de ações por parte da empresa em relação ao cuidado com os funcionários e a ouvi-los. Outros 2% acreditam que o foco nas pessoas está sendo negligenciado e precisa haver mais cuidado como, por exemplo, disponibilização de máscaras e luvas.

“Percebemos que as empresas dos respondentes e as que estão no nosso radar se preocupam com os funcionários, mas podiam estimular mais que as pessoas se envolvessem nas ideias para o negócio”, aponta a cientista de dados da GPTW Lina Nakata. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Marina Dayrell

Estadão Conteúdo

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