Quando o novo coronavírus obrigou o governo do Distrito Federal a ordenar o fechamento do comércio e das feiras populares, a costureira Divina Maria Rodrigues Barbosa, de 59 anos, viu desaparecerem todos os clientes na Cidade Estrutural, bairro que está entre os mais carentes de Brasília. Trabalhadora informal, dependente do auxílio emergencial do governo para pagar as contas, ela recorreu ao Banco Comunitário da Estrutural para ter o apoio financeiro para produzir máscaras e reforçar a renda durante a pandemia.
“O Banco Comunitário ajuda muito a comunidade, faz o dinheiro circular aqui na cidade. Entrei nesse projeto do banco com 15 costureiras para fazer máscaras de proteção para o Instituto Federal de Brasília (IFB). Não vejo a hora de sair outro projeto, para produzirmos agasalhos ou até mesmo lençóis para os hospitais aqui da região”, afirma a costureira.
Divina vive com o marido José Carlos da Silva, também de 59 anos, mas só ela conseguiu acessar o auxílio mensal de R$ 600 do governo federal. “Como nasci em novembro, sou uma das últimas pessoas a conseguir sacar o dinheiro na Caixa. Mas as dívidas e os impostos não esperam. Foi o projeto do Banco Comunitário que me ajudou a pagar as contas”, completa.
Ações como a do Banco da Estrutural se repetem em diversas comunidades carentes pelo Brasil. Os chamados bancos sociais estão na ponta onde os grandes bancos não chegam, emprestando recursos para trabalhadores informais, canalizando doações para os desempregados e até mesmo fazendo circular um dinheiro próprio onde o real minguou na pandemia.
Ao todo, são 115 bancos sociais que não deixaram de atender à população mais pobre em comunidades espalhadas por 90 municípios em 22 Estados. Ao contrário dos bancos comerciais, o objetivo não é o lucro. Essas instituições funcionam como ONGs, criadas por lideranças da comunidade para estimular os pequenos empreendedores locais.
Alternativa
Além do crédito para a produção, muitos desses bancos também estimulam o uso de uma moeda própria que circula apenas dentro da comunidade. Enquanto as pessoas aguardavam a autorização da Caixa para sacar o auxílio emergencial, por exemplo, muitas continuaram fazendo compras no comércio local usando palmas, maracanãs, capivaris, gostosos, cocais, orquídeas, tupis e veredas.
Só no mês de maio, mais de 30 milhões de mumbucas circularam na cidade de Maricá (RJ), onde opera a maior moeda local do País. Apenas durante a pandemia de covid-19, o número de estabelecimentos que aceitam a moeda social aumentou em mais de 3 mil, chegando a 6.669 comerciantes e prestadores de serviços cadastrados.
“Hoje o dinheiro que circula em Maricá é a mumbuca. O vendedor de picolé aceita, a tia do bolo de pote, o casal que vende doce na rua para pagar o casamento. Cadastramos os informais, mas também os grandes mercados, farmácias e até grandes redes nacionais de fast-food ou venda de móveis. A nossa capilaridade é maior que a do cartão de crédito na cidade”, conta a diretora presidente do Banco Mumbuca, Natalia Sciammarella.
O segredo do sucesso do banco é que ele foi criado em 2013 justamente para o pagamento de um benefício de renda mínima pela prefeitura de Maricá. Na pandemia, o auxílio para 23 mil desses moradores foi ampliado para 1.045 mumbucas (equivalentes a um salário mínimo) e ajudou a socorrer quem ficou sem trabalhar na crise.
“Hoje são 43 mil beneficiários da renda mínima municipal e outras 19 mil pessoas usando o banco social, que tem migrado sua operação para o meio digital. Ao contrário do cartão de crédito, no aplicativo do banco o comerciante recebe em mumbucas na hora e pode trocar por reais quando quiser. A taxa para cada estabelecimento é de apenas 2%, que são usados pelo banco em programas de crédito produtivo ou para a reforma de residências, sem a cobrança de juros”, completa Natália.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Eduardo Rodrigues e
Fabrício de Castro
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