Após quatro meses sem aulas por causa do isolamento social, universidades federais começam a retomar ou a planejar o retorno das atividades, de forma online. Segundo o Ministério da Educação (MEC), das 69 instituições, 53 estão com atividades suspensas – 846 mil alunos sem aulas. A retomada a distância esbarra em dificuldades de acesso dos estudantes às plataformas e até na falta de experiência dos professores para conduzir aulas remotas.
No início deste mês, o MEC anunciou a oferta de internet gratuita para universitários com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. “A tendência é que as universidades retornem (online), até pela dificuldade de falar, no momento, de volta presencial. Estão todos se organizando para atividades remotas”, diz Edward Madureira Brasil, reitor da Federal de Goiás (UFG) e vice-presidente da Andifes, entidade que reúne os dirigentes das universidades federais.
Logo após o decreto de quarentena, em março, a universidade federal suspendeu aulas convencionais e abriu só disciplinas de curta duração. Agora, prevê retorno às classes – online – de todos os cursos em agosto. Parte já voltou este mês.
Para isso, foi feita pesquisa com alunos sobre impactos da pandemia. “Muitos relataram perda de renda familiar ou individual. Também se perguntou sobre equipamento de informática, acesso. Muitos faziam uso da infraestrutura da universidade e eram esses que precisávamos ajudar”, diz a pró-reitora de Graduação, Isabel Marian Hartmann de Quadros.
A Unifesp tem treinado docentes para aulas virtuais – a ideia é usar vídeos ao vivo e gravados. Além disso, abriu editais para emprestar notebooks e ajuda para custeio de pacotes de dados de internet, iniciativas independentes de verba prometida pelo MEC.
Dificuldades
As federais temem que a longa fase sem aula e a crise afastem estudantes. O risco de evasão é ainda maior no fim do curso, quando alunos buscam faculdades privadas para obter logo o diploma.
Na Federal do ABC (UFABC), na Grande São Paulo, alunos também relatam dificuldades. A instituição optou por concluir, de forma emergencial, o quadrimestre letivo que estava em andamento quando começou a quarentena, mas nem todos conseguiram acompanhar. Sara Lorena, de 22 anos, do bacharelado em Ciências e Humanidades, teve de recorrer a um computador emprestado por amigos.
“Não tinha computador nem internet. Moro na periferia e o cabeamento da internet não chegava até aqui. O movimento que meus amigos fizeram foi de emprestar um computador, mas minha mãe ficou muito doente com suspeita de covid-19, de cama vários dias. Precisava ter todos os cuidados. As responsabilidades da casa ficavam comigo”, diz ela, atendente de telemarketing. “O que fiz foi continuar a única matéria obrigatória e abandonei as outras.”
Segundo a UFABC, 300 alunos não têm estrutura para acessar as aulas online – a universidade conta com doações de equipamentos e tenta adquirir novos computadores. Há campanhas similares em outras regiões. A Federal de Minas (UFMG) lançou semana passada um programa de apadrinhamento, que convoca a comunidade a doar equipamentos ou dinheiro para que alunos acompanhem as atividades. A UFMG deve retomar graduações em 3 agosto, de modo remoto, após quatro meses sem aulas.
Em nota, o MEC informa que a previsão para oferecer o pacote de dados “está condicionada a conclusão do processo e contratação emergencial” pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. O valor de contratação não será divulgado, diz a pasta, para evitar interferência no processo. A expectativa é de atender 900 mil alunos de baixa renda. Indagado sobre apoio técnico às universidades para produzir aulas online e treinar professores, o MEC afirma que “cabe às universidades a elaboração do seu plano de trabalho, bem como a produção de suas aulas e a capacitação de profissionais”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Júlia Marques
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