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Obra em refinaria no Rio atrai 15 mil desempregados

A distribuição do formulário de pedido de emprego começava às 5h, mas por volta das 4h filas de candidatos a uma vaga temporária se formavam na área de acesso à Refinaria de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

A cena se repetiu de duas a três vezes por semana durante todo o mês de junho, período em que 15 mil pessoas desempregadas foram à porta da fábrica da Petrobrás em busca da garantia de uma renda mensal até dezembro.

A parada para manutenção da Reduc será a primeira de uma série de obras em refinarias que estavam previstas para acontecer no primeiro semestre, mas foram postergadas por conta dos riscos de contaminação pelo coronavírus. Para realizar os serviços, as empresas contratadas pela estatal vão precisar de trabalhadores especializados e de apoio.

De cada 19 candidatos, porém, apenas um tem chance de ser selecionado e, com isso, enfrentar a crise com mais tranquilidade financeira neste segundo semestre. Os números são do sindicato local de profissionais da construção civil e outras atividades, o Siticomm, que organizou os encontros para recolher os currículos no estacionamento na frente da refinaria.

O presidente da entidade, Josimar Souza, prevê a criação de cerca de 800 vagas. Os primeiros selecionados, cerca de 100, já começaram a ser chamados e passam agora por treinamentos.

Mas a maioria deve ser convocada nos meses de outubro e maio, quando a obra entrará na fase de mais mobilização de pessoal, segundo ele. A Petrobrás não se posiciona quanto a isso.

Entre os presentes nas filas, a preocupação com o sustento da família superava o medo da contaminação pelo coronavírus tanto no momento de entrega dos currículos como durante a obra. Para a maior parte deles, essa é uma oportunidade única de conseguir um emprego mais qualificado na atual conjuntura econômica.

“É claro que eu me preocupo com a covid. A gente sabe que ela mata, mas a fome também. Se eu ficar em casa, o que a gente vai comer?”, argumentou Ronaldo Balbino, que atua como encarregado de andaime, mas, na crise, tem trabalhado como “chapa de caminhão”, ajudando caminhoneiros que chegam ao Estado do Rio de Janeiro a encontrar seus locais de destino.

Marcos Silva, encarregado de obra, conta que o período de trabalho em manutenções de indústrias dura de nove meses a um ano, com intervalos de 90 dias entre eles. “A gente parou em dezembro e esperava voltar em março. Mas, por causa da covid, isso não aconteceu”, afirmou ele, que está vivendo das economias e “bicos” desde o fim do ano passado.

Sem dinheiro para as despesas da casa, ele tentou recorrer ao auxílio emergencial de RS 600 mensais oferecido pelo governo, mas não conseguiu, porque não se encaixa nos pré-requisitos legais.

Já a técnica em segurança do trabalho Ana Paula Figueiredo não conseguiu o auxílio porque recebe dinheiro do programa Bolsa Família. Para pagar as contas e alimentar três filhos, ela tem feito faxinas em residências. “Estou preocupada em sair de casa e pegar covid. Tenho pais idosos e um filho com bronquite. Mas acho que a Petrobrás vai saber cuidar da prevenção (contra a contaminação)”, disse ela.

A estatal, por meio de sua assessoria, afirma que “as atividades (de manutenção da Reduc) só terão início após análise dos cenários internos e externos, dentro das normas federais e estaduais, com base nas respectivas orientações das autoridades sanitárias”.

Duque de Caxias, onde funciona a Reduc, está no topo da lista de contaminações no Estado. Até a última sexta-feira, 492 óbitos tinham sido registrados, o que posiciona a cidade na terceira colocação num ranking de número de mortos pela doença no Rio de Janeiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Fernanda Nunes

Estadão Conteúdo

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