O Instituto Raoni informou por meio de nota que o cacique Raoni, internado em Mato Grosso, apresentou um quadro de hemorragia digestiva. “Ele começou a apresentar sintomas de desidratação há oito dias e foi transferido de sua aldeia, no Território Indígena Capoto-Jarina, para um hospital em Colíder, na quinta-feira, 16. Em função de sua idade, seu estado de saúde inspira cuidados e, até o presente momento, não foi possível determinar a causa que resultou em severa anemia”, declarou a organização.
Maior liderança indígena do País, cacique Raoni está internado em Mato Grosso, após agravamento do seu quadro de saúde. No mês passado, o líder da etnia caiapó perdeu a mulher, Bekwyjkà Metuktire, e, desde então, tem apresentado um quadro depressivo.
Indicado ao prêmio Nobel da Paz em 2019, Raoni estava internado em um hospital de Colíder (MT), mas foi transferido para Sinop (MT), depois de seu estado de saúde piorar. Segundo o boletim médico, divulgado neste sábado, 18, Raoni está acordado, mas se alimenta com dificuldade e se queixa de fraqueza. A piora do seu quadro é devido ao agravamento de uma anemia e problemas renais.
“Raoni foi transferido para Sinop (MT), onde vai fazer novos exames. Estou muito preocupado com meu tio. Vamos fazer tudo para ele ficar bom”, disse ao Estadão o intérprete de Raoni, seu sobrinho Megaron Txucarramãe.
Em setembro do ano passado, Raoni esteve em Brasília onde se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para falar sobre direitos aos povos indígenas. Um dia antes dessa visita, o presidente da República Jair Bolsonaro havia feito críticas diretas ao cacique. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, disse, ao citar YsaniKalapalo, liderança indígena que viajou com Bolsonaro aos Estados Unidos.
Em junho do ano passado, em entrevista ao Estadão, Raoni fez críticas duras à forma como o governo Bolsonaro tem conduzido as políticas indigenistas e disse que seu povo corre o risco de desaparecer, se nada for feito. “Queremos dialogar com o governo, mostrar a ele que nós, indígenas, não aceitamos o que Bolsonaro pensa sobre nós, não aceitamos a violação dos direitos indígenas e dos territórios indígenas. Essa gestão é contra o povo indígena”, disse.
O cacique tentou se reunir com Bolsonaro para levar ao presidente o pleito da comunidade indígena, mas teve seu pedido de encontro negado pelo presidente. “Os povos indígenas estão preocupados. Acreditam que Bolsonaro pode acabar com nosso povo. Queremos falar, mostrar para o governo essa pressão que sofremos de madeireiros e garimpeiros. Precisam respeitar nossos direitos.”
Desde o início do governo Bolsonaro, as demarcações de terras indígenas no País foram paralisadas. O que se pretende é abrir as áreas atuais para exploração das áreas, o que hoje é proibido por lei.
Ícone da luta dos indígenas brasileiros, Raoni ganhou notoriedade internacional no fim da década de 1980. Em 1987, o músico britânico Sting iniciou uma série de viagens pela Amazônia, onde conheceu o cacique, em 1989. A amizade com o líder da tribo dos caiapós levou Sting a se engajar na causa ecológica e na luta pela demarcação das terras indígenas no Xingu. A parceria levou à criação da Rainforest Foundation, entidade que atua na proteção da floresta e de seus povos tradicionais.
“Até hoje somos parceiros e amigos”, disse Raoni, ao mencionar a amizade com o vocalista do The Police. “Devemos nos ver em breve”, comentou, na ocasião.
Por Camila Turtelli e André Borges
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