O mercado de trabalho voltou a fechar vagas na semana de 21 a 27 de junho, após sete semanas de estabilidade, enquanto a fila de desempregados continuou aumentando, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Covid (Pnad Covid), divulgada ontem pelo IBGE. A redução da população ocupada indica o fechamento de 1,4 milhão de vagas em uma semana. No mesmo período, 675 mil trabalhadores ficaram desempregados – o número é menor do que o de vagas fechadas porque parte dos demitidos pode ter saído da força de trabalho, desistindo de procurar emprego.
Desde a primeira semana de maio, quando começou a nova pesquisa do IBGE, são 2,6 milhões de desempregados a mais, atingindo um total de 12,428 milhões de brasileiros e levando a taxa de desocupação a 13,1%, ante 10,5% no início de maio. O contingente de brasileiros sem emprego sobe para 39,367 milhões quando se leva em conta a população não ocupada que não procurou trabalho, mas que gostaria de trabalhar.
Economistas têm chamado a atenção para os efeitos inéditos da covid-19 sobre o mercado de trabalho, já que o avanço da pandemia e as medidas de isolamento social levaram a paradas abruptas nas atividades ou ao incentivo ao trabalho remoto. Diante da crise, houve demissões e trabalhadores em atividades tidas como informal ficaram impedidos de trabalhar.
Ainda assim, o total de desempregados não explodiu, porque os estudos sobre mercado de trabalho, conforme padrões internacionais, só consideram desocupada a pessoa que está sem uma vaga, mas tomou alguma atitude para conseguir trabalho. Com a pandemia, num primeiro momento, quem perdeu o emprego ficou impedido de procurar uma nova oportunidade.
Economistas já vinham alertando que, à medida que a economia for reabrindo, o desemprego subirá, pois trabalhadores que vinham encontrando dificuldade para buscar uma vaga começarão a correr atrás. Esse processo continuou na quarta semana de junho, conforme a Pnad Covid.
População ocupada
Só que esse movimento pode não ser o único responsável pela alta do desemprego, já que a queda na população ocupada (como é chamado o total de trabalhadores empregados, em vagas formais ou informais), para 82,5 milhões de pessoas na semana de 21 a 27 de junho, indica alta nas demissões. Desde a primeira semana de maio, o total de ocupados vinha girando em torno de 84 milhões, sempre com variações pouco significativas. Essa estabilidade apontava para uma freada nas perdas de emprego – seja com demissões, seja com trabalhadores informais desistindo de trabalhar.
Segundo Maria Lúcia Vieira, coordenadora da Pnad Covid, a nova rodada de demissões pode estar associada tanto ao fechamento de empresas quanto à dispensa de trabalhadores que estavam afastados do trabalho, em férias coletivas ou com o contrato suspenso, conforme medida emergencial adotada pelo governo em meio à crise.
Anteontem, o IBGE revelou que 523 mil empresas fecharam, na primeira quinzena de junho, por causa da pandemia. Ontem, a Pnad Covid confirmou a queda contínua no total de trabalhadores ocupados, mas afastados do trabalho por causa do isolamento social. Na primeira semana de maio, eram 16,589 milhões, 19,8% do total de ocupados. Na quarta semana de junho, esse grupo caiu para 10,323 milhões, ou 12,5% do total.
Em relatório divulgado ontem, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destacaram que a queda no total de ocupados é “condizente com uma reação defasada do mercado de trabalho ao nível de atividade no setor de serviços”, maior empregador da economia. Diferentemente do varejo e da indústria, que apresentaram alguma recuperação em maio, o setor de serviços continuou com desempenho negativo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Vinicius Neder
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