O professor titular da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Massad disse ao Estadão nesta sexta-feira, 17, que houve um “mal-entendido” nas projeções que fez sobre morte de crianças em uma eventual volta às aulas presenciais nas escolas. Em conferência online, Massad apontou que a volta às aulas poderia levar à morte de 17 mil crianças “Nos primeiros 15 dias, a projeção é de 1,5 mil mortes. As 17 mil seriam até o fim da epidemia”, disse nesta sexta. Além disso, o total estimado de vítimas se refere a crianças, adolescentes e adultos da comunidade escolar, e não somente em São Paulo, mas em todo o Brasil.
As declarações de Massad em um evento online da Agência Fapesp motivaram questionamentos sobre o plano de abertura das escolas no Estado de São Paulo e o coordenador executivo do Centro de Contingência contra o Coronavírus, João Gabbardo, chegou a dizer na quinta-feira que o plano de volta às aulas, prevista para 8 de setembro, seria reavaliado. Nesta sexta-feira, o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, disse que o planejamento está mantido. Grande parte das escolas de todo o Brasil está fechada desde março para conter o avanço do coronavírus, que já matou mais 77 mil no País.
“Houve um mal-entendido. Em um evento com a Fapesp, em um momento da discussão, apresentei um resultado de 17 mil óbitos pela covid se as aulas voltassem. O meu equívoco é que eu disse que isso aconteceria nos primeiros 15 dias. Nos primeiros 15 dias, a projeção é de 1,5 mil mortes. As 17 mil seriam até o final da epidemia”, disse Massad ao Estadão nesta sexta. Ele chegou ao número de 17 mil óbitos contando 200 dias a partir de 1º de agosto, com uma eventual reabertura das escolas.
Segundo o pesquisador, a projeção de 1.557 mortes até o dia 15 de agosto foi feita com base em um modelo matemático que leva em consideração a abertura das escolas em todo o País – e não só em São Paulo – no dia 1º de agosto, com o retorno de todas as crianças e adolescentes, de 0 a 19 anos, de uma só vez. No Estado de São Paulo, prevê-se um retorno em setembro, se todo o Estado reduzir as taxas de contaminação, e com volta gradual dos estudantes à sala de aula. Na primeira etapa, seriam 35% dos estudantes.
Os óbitos projetados pelo pesquisador seriam tanto de alunos quanto professores – ou seja, de pessoas da comunidade escolar. Não foram calculadas mortes decorrentes do contato dessas pessoas com outras, no ambiente externo. Segundo o pesquisador, o modelo levou em conta que taxa de mortalidade das crianças pela covid-19 é menor do que a da população em geral.
“Morrem muito menos, mas não significa que não morram. E, na minha opinião, se tiver o risco de morrer uma única criança por escola, a escola não pode abrir. A discussão se é 1.500 ou 17 mil é fútil. O que importa é que certamente vão morrer crianças se abrir a escola”, disse Massad nesta sexta-feira.
Em entrevista coletiva na manhã desta sexta, Rossilei disse que 1.557 é um número “considerável”. “Por isso que estamos alertando, nós não aceitamos e vamos trabalhar com absoluta segurança nesse processo. Só voltaremos com a área da saúde falando que é possível retornar dadas as condições que teremos lá na frente. Nossos protocolos estão mantidos.”
Massad explicou que as projeções são preliminares e que não é possível calcular o que pode ocorrer com a curva de infecções e óbitos se as escolas forem abertas em setembro. “Essa projeção foi calculada prevendo a abertura no dia 1º de agosto. Não tenho confiança nos modelos matemáticos para projetar o que vai acontecer daqui a um mês e meio, as incertezas são grandes. Esses modelos só valem para 15 dias.”
A pesquisa não foi publicada em periódicos científicos. “É um exercício que está sendo feito para alertar as autoridades para o fato de que existe um risco de crianças morrerem”, diz o professor, que vem pesquisando os impactos da covid-19.
“Comecei a analisar porque houve essa decisão de volta à escola e isso me gerou uma preocupação.” Segundo ele, é preciso, com base nos números, fazer uma análise criteriosa do plano de reabertura, considerando as especificidades de cada local.
Dados já coletados em todo o mundo mostram que as crianças têm menos risco de adoecer gravemente por causa do coronavírus. Mas ainda há dúvidas importantes para esclarecer. É preciso saber, por exemplo, com que frequência as crianças são infectadas e qual papel elas têm na transmissão do vírus.
Por Júlia Marques
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