Os juros futuros de curto e médio prazo fecharam a quarta-feira, 8, em alta, em meio a ajustes de posições refletindo o aumento do conservadorismo no quadro das apostas para a Selic. A percepção de que o ciclo de queda da taxa básica chegou ao fim já vinha ganhando força nos últimos dias e hoje cresceu mais com os dados do varejo acima do esperado. A curva já aponta 75% de chance de manutenção no próximo Copom. Em consequência, os vencimentos longos oscilaram em queda boa parte do dia, mas fecharam perto da estabilidade, dado também que a quarta-feira foi de agenda esvaziada no exterior.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) fechou com taxa de 3,08%, de 2,952% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,063% para 4,17%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,48%, ante 6,513% ontem.
“A surpresa na atividade foi o grande driver de hoje. O resultado da PMC foi bastante expressivo. Para além disso, tivemos as falas recentes do Roberto Campos Neto mostrando certo otimismo com a retomada do crescimento”, afirmou André Rodrigues, economista da MAG Investimentos.
As vendas do varejo restrito e ampliado subiram, em maio ante abril, 13,9% e 19,6%, respectivamente, acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 11,60% e 13,10%. Com o resultado, o UBS Brasil revisou a projeção para o PIB no segundo trimestre, esperando agora queda de 11,5%, menor do que o recuo de 13,5% estimado anteriormente. Além disso, a estimativa atual 2020, de queda de 7,5%, pode ser alterada para uma retração mais branda.
O conjunto de dados recentes, como os do varejo, indústria e Caged em maio, além de indicadores antecedentes já conhecidos em junho, como os da Anfavea, tem levado o mercado a ajustar a expectativa de novos cortes para a Selic. Pela precificação da curva a termo, segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos, a probabilidade de Selic estável em agosto subiu de 70% ontem para 75% hoje, enquanto a chance de corte de 0,25 ponto porcentual recuou de 30% para 25%.
A quarta-feira teve ainda IGP-DI de junho (1,60%) acima da mediana das estimativas de 1,40%.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, afirma que há cerca de 15 pontos-base de alta precificados na curva para o fim de 2020 e para o fim de 2021 a curva projeta Selic de 5%. “Ou seja, o mercado já começa a colocar alguma chance real de alta de juros este ano, o que vejo como algo muito agressivo”, afirma ele, argumentando que nível de ociosidade da economia é elevado e os dados do varejo subiram em bases de comparação muito fracas. “Ainda há um longo caminho a se percorrer”, disse. Na sua avaliação, a perspectiva para o médio prazo não é boa, em função da expectativa de deterioração do mercado de trabalho e considerando o caráter temporário das medidas emergenciais nas quais está amparada a melhora da economia no curtíssimo prazo.
Por Denise Abarca
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