Categories: Política

Decisões de Aras limitam atuação de MPF na pandemia

Sob o comando de Augusto Aras, a Procuradoria-Geral da República tem defendido uma série de medidas que buscam centralizar decisões. A mais polêmica delas é a criação de um órgão que concentraria investigações de corrupção em Brasília, afetando modelos bem-sucedidos como o da Lava Jato, mas não é a única. Pelo menos outras duas limitam a atuação de procuradores em temas relacionados à pandemia do novo coronavírus.

Desde abril, recomendações de procuradores de primeira instância a prefeitos e governadores relacionadas à crise de saúde precisam ser submetidas à análise do Gabinete Integrado de Acompanhamento à Epidemia do Coronavírus, do Ministério Público Federal. Aras tem justificado as ações com o argumento de que cabe à PGR “resolver conflitos, e não produzi-los”.

Em junho, na condição de presidente do Conselho Nacional do Ministério Público, Aras assinou nova recomendação para que procuradores não questionem atos de prefeitos e governadores relacionados à pandemia se não houver consenso científico sobre as medidas adotadas. A orientação é de que os atos do Executivo estadual e municipal sejam questionados pelo Ministério Público estadual, e não pelo Ministério Público Federal.

Com isso, procuradores não deveriam acionar a Justiça para obrigar um Estado a suspender ou a iniciar o fornecimento de cloroquina, uma vez que há divergências sobre sua eficácia.

Procurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a PGR informou que as medidas buscam garantir ação mais coordenada no enfrentamento da pandemia.

A recomendação não impede a atuação dos procuradores, mas tem sido vista por parte do MPF como forma de intimidação, uma vez que foi assinada pelo corregedor, Rinaldo Reis, que tem o poder de abrir procedimentos disciplinares contra membros do órgão.

Na semana passada, a Associação Nacional de Procuradores da República e a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho acionaram o Supremo Tribunal Federal para derrubar a recomendação. Elas classificam a medida como “indevida ingerência” por entender que ela impede procuradores de fiscalizarem os recursos públicos e as medidas adotadas pelos gestores no combate à pandemia.

No Espírito Santo, o governo estadual utilizou a recomendação de Aras para derrubar na Justiça um pedido do MP que buscava nominar os técnicos responsáveis por orientar as decisões quanto à abertura ou fechamento de estabelecimentos no Estado.

Em Mato Grosso, a Advocacia-Geral da União mencionou a mesma recomendação ao se posicionar contra pedido do MPF para impor lockdown em municípios com aumento nos casos de covid-19. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Breno Pires

Estadão Conteúdo

Recent Posts

Tallis Gomes renuncia da G4 Educação após fala machista; nova CEO é mulher

A G4 Educação, que oferece cursos para empreendedores, anunciou na noite deste sábado, 21, que…

9 horas ago

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos sofre inclinação; comissão investigará

Uma plataforma da Petrobras localizada na Bacia de Campos, na costa norte do Rio de…

10 horas ago

Hurb e governo negociam acordo para reembolsar clientes que tiveram viagens canceladas

A agência de viagens Hurb, antiga Hotel Urbano, e o governo federal, por meio da…

14 horas ago

Hope expulsa Tallis Gomes de seu conselho após frase polêmica sobre mulheres CEOs

Em um novo capítulo da polêmica envolvendo o fundador da G4 Educação, Tallis Gomes, a…

15 horas ago

Banco digital supera adquirência e já é o maior negócio do Mercado Pago

O banco digital já é o maior negócio do Mercado Pago, com o reforço da…

21 horas ago

De onde vem o rombo das contas públicas e como ele trava o crescimento do País?

Após superar crises cambiais sucessivas, o Brasil tem enfrentado, nos últimos dez anos, desafios nas…

23 horas ago