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Crise da Smiles expõe dificuldades com controladora

Adorada pelo mercado financeiro por anos, a Smiles entrou em crise em 2018 quando sua controladora, a Gol, decidiu não renovar a parceria com a empresa de programa de fidelidade e anunciou que iria incorporá-la a sua estrutura. O plano, no entanto, foi por água abaixo com a pandemia, que abalou o setor aéreo e deixou a Gol sem caixa para adquirir as ações de sua controlada. A situação ficou pior para a Smiles, que está no limbo desde março e já perdeu 40% de seu valor de mercado. Além disso, está no centro de uma nova disputa entre minoritários e controlador desde segunda-feira.

No período em que a Smiles caiu 40%, a Gol avançou 81% e o Ibovespa, principal índice da B3, subiu 18%. Nesta semana, a empresa de fidelidade acumula mais perdas, após anúncio de que comprará R$ 1,2 bilhão em passagens antecipadas da Gol, em operação que dá fôlego à aérea, mas desagrada acionistas minoritários, que consideraram os termos desfavoráveis.

O anúncio da compra antecipada é mais um episódio que escancara o conflito entre a companhia de fidelidade, a aérea controladora e minoritários. “Esses problemas são inerentes a empresas de fidelidade, que são controladas pelos seus principais clientes e fornecedores”, diz o sócio do BTG Pactual e chefe de investimentos da Exame Research, Renato Mímica.

Hoje, para se recuperar no mercado financeiro, a Smiles trabalha para tentar manter resultados positivos e pagar dividendos a acionistas. A estratégia, porém, não será de fácil execução dado o cenário econômico crítico durante a pandemia.

A distribuição de dividendos foi justamente um dos fatores que levou a Smiles a ser um dos maiores sucessos da Bolsa. Inovadora e com um quadro de funcionários enxuto, a empresa viu seu valor de mercado alcançar R$ 11,5 bilhões no fim de 2017 – hoje, está em R$ 1,9 bilhão.

A primeira queda relevante da empresa na Bolsa ocorreu em março de 2018, quando a Smiles anunciou uma redução de pagamento de dividendos de 100% para 25% do lucro, sob a justificativa de que manteria recursos para enfrentar a volatilidade crescente, melhorar o balanço e a qualidade do crédito.

Passados sete meses, o mercado foi novamente surpreendido quando a Gol anunciou que não renovaria o contrato com a Smiles. A intenção era reincorporar a empresa de fidelidade com uma troca de ações. Detentores de papéis da Smiles virariam acionistas da Gol. A proporção dessa troca de ações, porém, foi vista como desvantajosa pelos minoritários da Smiles, o que criou um entrave na operação.

Concomitantemente, a Latam atravessava um processo semelhante e tranquilo com a Multiplus, oferecendo aos donos de ações da companhia de fidelidade valores considerados justos pelo mercado.

Entre os minoritários da Smiles, as decisões de reduzir o pagamento de dividendos e a de pôr fim à parceria entre as empresas foram vistas como medidas para derrubar o preço das ações da companhia, fazendo com que a reincorporação saísse mais barata para a aérea.

Lógica

Colocar a Smiles para dentro de casa novamente traria para a Gol lucros constantes – ao menos em tempos normais, sem pandemia. Para o especialista no setor aéreo André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company, também haveria um ganho de agilidade. “A empresa conseguiria administrar melhor as regras do programa de fidelidade sem ter de prestar conta para terceiros.”

A Gol, no entanto, havia aberto mão disso em 2013, quando o setor aéreo passava por dificuldades e a abertura do capital da Smiles era uma oportunidade para levantar recursos sem perder o controle da empresa. Posteriormente, quando a Gol enfrentou uma de suas piores crises, em 2015 e 2016, a Smiles ajudou no resgate da aérea ao comprar passagens antecipadamente. Agora, a história se repete.

Apesar de a nova compra de passagens antecipadas descontentar minoritários, que consideram os juros de 3,5% ao ano baixos, ela pode favorecer indiretamente a Smiles, dado que uma empresa de fidelidade depende de parceria com uma companhia aérea saudável.

O entrave mais grave, portanto, está na falta de previsibilidade do que será o acordo entre as empresas. No comunicado emitido em março, Gol afirmou que a reorganização societária da empresa estava “cancelada”.

Segundo o Estadão apurou, na Smiles a expectativa é que a Gol reverta a decisão de cancelar a parceria, cujo contrato vence em 2032. Isso garantiria uma recuperação das ações da companhia de fidelidade. Essa alta, porém, poder não ser tão interessante para Gol, caso ela ainda tenha interesse em adquirir os papéis. Procuradas, Gol e Smiles não quiseram comentar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Luciana Dyniewicz

Estadão Conteúdo

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