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‘Morra quem morrer’, diz prefeito de Itabuna ao anunciar reabertura da cidade

O prefeito de Itabuna, a 436 km de Salvador, Fernando Gomes (PTC), afirmou que vai reabrir o comércio da cidade no próximo dia 9 de julho, “morra quem morrer”. A declaração foi dada por Gomes na terça-feira, 30, durante entrevista coletiva à imprensa local. Nela, o prefeito anunciava que iria postergar a retomada das atividades por mais uma semana, devido ao alto número de infectados pelo novo coronavírus na cidade.

“Primeiro lutar pela vida, a vida é uma só. Morreu, acabou. Não tem fortuna, não tem pobreza, não tem falência, não tem nada. Mas não posso abrir uma coisa sem cobertura. Na dúvida, com gente nossa morrendo por causa de leito em Itabuna, vou transferir a reabertura, mandei já fazer um decreto. Dia 9 abre, morra quem morrer”, disse.

A situação em Itabuna é uma das mais preocupantes no Estado, desde o início da pandemia. Segundo a prefeitura, na quarta-feira, 1º, dos 22 leitos de UTI exclusivos para covid-19 no município, apenas um estava disponível. A expectativa é de que outros dez sejam abertos na próxima semana, no Hospital de Base da cidade, como condição para reabertura do comércio.

Segundo boletim divulgado pela prefeitura, Itabuna tinha 2.676 casos confirmados até esta quarta. Destes, 1.498 estão ativos. O município é o 2º com mais mortes pela pandemia no Estado, com 58 óbitos, segundo dados da Secretaria de Saúde da Bahia. Além disso, é o 3º com maior quantidade de infectados e ostenta o 5º maior número de casos por 100 mil habitantes.

Pedido de desculpas

Após a repercussão negativa da declaração, o prefeito pediu desculpas pela frase. Em posicionamento enviado ao Estadão, afirmou tratar a pandemia com “máximo rigor” e que continuará “sempre atento” à ocupação dos leitos de UTI. “Quero pedir desculpas pela minha frase dita durante uma entrevista coletiva. Deixo claro, no entanto, que ressaltei com ênfase: primeiro, lutar pela vida, a vida é uma só”, disse “Tenho tratado a pandemia com máximo rigor lutando sempre para salvar vidas. E assim continuarei atento sempre à ocupação de leitos de UTI,”

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), saiu em defesa do prefeito nesta quinta-feira, 2. Em entrevista coletiva, o petista relatou que Gomes se queixou de receber muitas pressões de comerciantes para retomada das atividades. “Ele me disse: Tenho cinco mandatos e nunca vivi isso que estou vivendo agora. Eu nunca me senti tão pressionado por todos os lados desse jeito”, afirmou.

Costa relatou, ainda, que pediu ao prefeito para não reabrir o comércio esta semana porque a taxa de contaminação na cidade continua alta. “Ele (Gomes) estava predisposto a abrir essa semana, pedi que ele não abrisse. Há um mês, a contaminação em Itabuna era muito alta. Fizemos medidas drásticas, toque de recolher, fechamos comércio, tudo, o índice (de contaminação) caiu para 2%. Depois, abriu tudo e voltou a crescer”, relembrou.

Quem é o prefeito de Itabuna

Fernando Gomes é uma figura histórica da política baiana. Com 80 anos, está no 5º mandato como prefeito de Itabuna. Foi eleito pela primeira vez em 1977. Também foi deputado federal constituinte, participando dos estudos para elaboração da Constituição de 1988.

Hoje aliado do governador Rui Costa, foi eleito em 2016 pelo DEM, presidido nacionalmente pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, principal opositor de Rui. Em 2017, ele rompeu com Neto e iniciou a aproximação política com o petista. Recentemente, se filiou ao PTC, após passar quase três anos sem partido.

É conhecido também pelas polêmicas nas quais se envolveu. Em 1980, foi intitulado pela revista Veja como o “maior marajá do Brasil” por causa dos altos salários que recebia. Só conseguiu tomar posse do atual mandato após decisão do Tribunal Regional Eleitoral – chegou a ter a candidatura indeferida por causa da Lei da Ficha Limpa.

No início de maio, anunciou que não concorreria a um novo mandato. Em entrevista ao jornal A Tarde, culpou a pandemia pela decisão. “Não vou para a reeleição com um negócio desse do coronavírus. Isso é uma loucura. É uma desgraça o que estão fazendo no mundo com essa doença. ‘Tô’ fora.”

Por Bruno Luiz, especial para O Estado

Estadão Conteúdo

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