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Itaú e XP: briga entre sócios ou estratégia de marketing?

Ao longo desta semana, o Banco Itaú (ITUB4) e a corretora XP Inc. (XP) trocaram farpas através de críticas ao modelo de negócio de cada uma nas suas respectivas áreas de assessoria de investimentos.

O maior banco privado do País lançou uma campanha para rebater o discurso adotado pelas corretoras independentes da total isenção na relação cliente/assessor/corretora, um dos principais argumentos utilizados por agentes autônomos de investimento (AAI) para converter clientes para dentro da sua base.

Além disso, também é explorada a questão da nova realidade das plataformas de investimentos do Itaú. Enquanto há alguns anos as corretoras independentes eram as únicas a oferecer uma gama repleta de opções como fundos de diversos gestores e títulos de renda fixa de inúmeros emissores, os bancos seguiam com o modelo tradicional, comercializando apenas fundos e títulos de emissão própria. Esta realidade, contudo, mudou de alguns anos para cá e os “bancões” (liderados pelo Itaú Unibanco) passaram a abrir a sua plataforma para competir com os players independentes.

Um dia após o lançamento da campanha, Guilherme Benchimol, presidente da XP, se pronunciou nas redes sociais de maneira firme, acusando o banco a “preferir o Brasil do passado, com juros altos e baixa concorrência, explorando ainda mais os empresários e investidores individuais”, seguindo a linha do discurso pró desbancarização dos investimentos no Brasil.

Nos dias seguintes o clima ficou acirrado, gerando repercussão não apenas nas mídias especializadas do mercado financeiro como também nas campanhas de marketing de cada instituição.

A última novidade da XP foi o envio de um colete para cada investidor que realizar uma Ted do Itaú para XP e publicar nas suas redes sociais. O brinde faz alusão a uma das capas da campanha do Itaú, que de maneira pejorativa falava dos assessores da moda, ironizando o vestuário habitual dos assessores de investimento.

Apesar de bastante discutida, a notícia traz pouca relevância em termos práticos no curto prazo e analistas esperam impacto neutro no preço das ações de ambas companhias diante das acusações.

A XP revolucionou o mercado de capitais no Brasil, prestando um grande serviço em termos de acesso democrático a boas opções de investimento, atuação na educação dos investidores entre outros fatores. Contudo, a avaliação dos especialistas é de que a crítica atual do Itaú também é válida, pois pode haver sim conflito de interesses.

A questão do cliente como centro do plano de negócio da XP é, por vezes, exagerada. A tão falada transparência nem sempre é uma verdade vista na prática e o modelo da XP está longe de ser totalmente livre de vieses e desvios de conduta por parte dos seus agentes.

O Itaú comprou 49,9% da XP em 2017 e, após o IPO, teve sua participação levemente reduzida devido a diluição. No cenário atual ele detém 46,1% da companhia. Contudo, o banco detém também opções de compra de mais 12,5% da participação para exercício em 2022, o que aumenta o valor de mercado dos seus direitos sobre a XP.

De acordo com os preços de fechamento desta quinta-feira (25) o valor de mercado da XP em moeda local é de R$ 135 bilhões, pouco mais da metade do Itaú, que atualmente vale R$ 249 bilhões. Dessa forma, somente a participação do Itaú tem valor de mercado de R$ 62,2 bilhões, equivalente a 25% do valor de mercado do Itaú.

Analistas avaliam que as recentes declarações também fazem parte de um jogo para a torcida, e que o discurso nos bastidores entre as instituições é, certamente, bem diferente do que o adotado na frente das câmeras, afinal Guilherme Benchimol (XP) e Roberto Setubal (Itaú) são sócios.

Redação Mercado News

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