Economia

BC determina suspensão de pagamentos por WhatsApp

A notícia da morte dos bancos foi anunciada cedo demais e com muito exagero. Na noite desta terça-feira (23), o Banco Central (BC) informou que “no âmbito de suas atribuições de regulador e supervisor dos arranjos de pagamento no Brasil, o BC determinou à Visa e à Mastercard que suspendam o início das atividades ou cessem imediatamente a utilização do aplicativo WhatsApp para pagamentos e transferências”.

No comunicado, divulgado pelo BC às 18:10 da terça-feira, a autoridade monetária afirma que a motivação para a decisão é “preservar um adequado ambiente competitivo, que assegure o funcionamento de um sistema de pagamentos interoperável, rápido, seguro, transparente, aberto e barato.” Segundo o BC, a medida permitira avaliar riscos para o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). “O eventual início ou continuidade das operações sem a prévia análise do Regulador poderia gerar danos irreparáveis ao SPB notadamente no que se refere à competição, eficiência e privacidade de dados.”

PAGAMENTOS – Para entender o caso, é preciso retroceder uma semana. Na terça-feira, 16 de junho, o WhatsApp anunciou o lançamento de um serviço de pagamento e transferência de dinheiro pelo aplicativo. O serviço seria operado em parceria com a empresa de adquirência Cielo, controlada por Bradesco e Banco do Brasil.

A principal inovação é a dispensa do uso dos POS, as tradicionais maquininhas que, durante muito tempo, garantiram a empresas como Cielo, Rede e Getnet um faturamento estável e polpudo por processarem as crescentes transações com cartões. A princípio, as transações no país poderiam ser realizadas pelos portadores de cartões de débito ou de crédito do Banco do Brasil, do Nubank e da Sicredi, com as bandeiras Visa e Mastercard.

A entrada do WhatsApp no mercado brasileiro de pagamentos é mais importante do que parece. Não se trata apenas de proporcionar às centenas de milhões de brasileiros – muitos deles desbancarizados – mais uma maneira de pagar contas e transferir dinheiro. Também representa a entrada das gigantes de tecnologia no mercado bancário brasileiro, pois o proprietário do aplicativo WhatsApp é o FaceBook.

AMEAÇA AOS BANCOS – Para os bancos, essas gigantes são a principal ameaça. Octávio de Lazari, presidente do Bradesco, disse em várias ocasiões que as “big techs” são mais preocupantes do que as fintechs para o negócio bancário. O próprio WhatsApp é um bom exemplo. Apesar de o aplicativo não divulgar formalmente o número de usuários que possui no País, a estimativa é que esse contingente supere 100 milhões de pessoas, o que é muito mais que a clientela dos grandes bancos de varejo. Não por acaso, a notícia movimentou o mercado. No dia do anúncio, as ações da Cielo, única adquirente listada no mercado brasileiro, chegaram a subir 35 por cento. Agora, segundo Eduardo Guimarães, especialista de ações da Levante Ideias de Investimentos, o impacto da decisão será negativo sobre as ações da Cielo.

Além da ameaça ao sistema, a entrada do WhatsApp poderia reproduzir, no Brasil, algo que ocorreu na China. Lá, o sistema de mensagens WeChat, controlado pelo grupo Tencent, possui 1,2 bilhão de usuários. Desse, 800 milhões usam o serviço WeChat Pay e, segundo dados da empresa, há 50 milhões de empresários que recebem pagamentos por meio desse sistema, retirando espaço do dinheiro em papel e dos cartões de crédito e de débito. Segundo um executivo do setor de cartões, essa imagem preocupou o BC. “O Banco Central não quer abrir as portas para o estabelecimento de um monopólio virtual de pagamentos, ainda mais controlado por uma empresa internacional, que não está sujeita à fiscalização do BC”, diz o executivo. Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) não comentou o assunto.

Claudio Gradilone

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