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Isolamento provoca efeito oposto em alimentação de casal

A dona de casa Claudia Fátima Nassar Reis e o consultor de empresas Rogério Vargas Reis, ambos de 55 anos, que moram no bairro do Morumbi, em São Paulo, são exemplos emblemáticos das mudanças ocorridas com a alimentação dos brasileiros, especialmente de classe média e média alta, durante a quarentena.

Para Claudia, a alimentação mudou para pior. Para Rogério, para melhor. Com as restrições de convívio social, ela parou de fazer ginástica duas vezes por semana, com um personal trainer, na academia do prédio em que mora. Ele passou a correr pelas ruas do bairro todos os dias. Resultado: Claudia afirma que engordou de três a quatro quilos, mesmo caminhando cerca de 5 km por dia, enquanto Rogério conseguiu manter o peso, nos três meses de isolamento social praticado na cidade.

Ela conta que, antes do confinamento, procurava manter uma alimentação balanceada, à base de salada, arroz, legumes e sem carne vermelha durante a semana. Além dos exercícios, para manter a linha, diz que costumava fazer o cabelo e as unhas no salão e se arrumava para bater perna por aí e encontrar com as amigas.

Com a quarentena, afirma que até conseguiu manter os horários das refeições. Mas, como a sua empregada Sílvia agora só vai duas vezes vez por semana, em vez de quatro, principalmente para passar roupa e dar um trato básico no apartamento, o cardápio ficou bem mais restrito. Ainda assim, ela afirma que não tem recorrido muito ao delivery. Embora compre alguns produtos online, diz que vai pessoalmente ao supermercado para comprar frutas, legumes e vegetais.

Claudia conta que, hoje, passou a comer muito chocolate, bolos e doces fora de hora, enquanto assiste a séries na TV para passar o tempo. Com o marido e o filho João Pedro, de 21 anos, em casa o dia todo, até o café da manhã, que era uma refeição frugal, passou a ser tomado à mesa, em família, com geleia, mel, pães, doces e o que mais houver na dispensa para diversificar as opções. “Como agora a gente quase não sai e parei de fazer ginástica e de me arrumar para sair, a autoestima diminuiu muito”, afirma. “É um circulo vicioso, que acaba se refletindo na balança.”

Para Rogério, a quarentena acabou tendo o efeito oposto ao de sua mulher. Como comia muito fora e costumava ter pouco tempo para fazer as refeições, muitas vezes almoçava apenas um sanduíche ou um salgadinho. Comer em casa, para ele, tornou-se um bônus. Ainda que esteja comendo mais, sua alimentação ganhou em qualidade. Disciplinado, porém, ele tem conseguido manter a silhueta com suas corridas diárias.

Como se pode observar pelos casos de Claudia e Rogério, comer em casa pode ser bom – ou não. O certo é que, para melhor ou para pior, a alimentação de boa parte dos brasileiros mudou na quarentena.

Baixa renda

Durante a quarentena, que já dura mais de três meses em boa parte do País, cerca de 60% dos brasileiros, segundo as pesquisas, conseguiram manter o peso e 17% até emagreceram, ao contrário do que se poderia imaginar inicialmente. Mas, entre os mais pobres, isso não foi uma decisão voluntária, mas uma restrição compulsória.

Muitos dos que perderam o emprego, tiveram o trabalho suspenso ou a jornada reduzida estão comendo menos, porque simplesmente não têm dinheiro para se alimentar bem. Além de terem ficado sem as refeições no trabalho, em geral subsidiadas pelo empregador e mais balanceadas do ponto de vista nutricional, o problema se agravou com a falta da merenda escolar das crianças.

A dona de casa Claudia Fátima Nassar Reis, que mora no bairro do Morumbi, em São Paulo, conta que Sílvia, sua empregada, teve de recorrer a marmitas distribuídas gratuitamente por organizações sociais na comunidade de Paraisópolis, mesmo recebendo o salário integral, apesar de sua jornada de trabalho ter sido reduzida na quarentena. Foi a forma que ela encontrou para alimentar a si mesma e aos filhos, que Sílvia cria sozinha.

“Muitas pessoas estão passando necessidade mesmo e tiveram que diminuir o consumo alimentar”, diz a nutricionista Marcia Nacif Pinheiro. “Antes, com a merenda escolar, a situação era bem melhor. Agora, nem isso eles têm.”

Nas faixas de menor renda, segundo ela, há também o grupo dos que conseguiram manter a capacidade de consumo de alimentos, mas têm um conhecimento sobre alimentação muito menor do que a classe média e média alta. Muitas vezes, na hora de ir ao supermercado, acabam escolhendo produtos com mais carboidrato, gordura e açúcar, que, apesar de serem saborosos, podem prejudicar a saúde quando consumidos em excesso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por José Fucs

Estadão Conteúdo

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