A arrumadeira Ione Soares, de 40 anos, teve o salário reduzido em 75% e conta que está difícil pagar as contas. Ela aguarda há cerca de um mês o complemento salarial devido pelo governo – que ainda não foi pago. O marido e o filho estão na mesma situação. “A água está atrasada, a energia está atrasada, o aluguel está atrasado…”, enumera.
O drama de Ione é o mesmo vivido por milhões de brasileiros. Em meio à pandemia da covid-19, o porcentual de famílias com dívidas atingiu em junho o recorde histórico de 67,1%, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde janeiro de 2010.
Em maio, a proporção de famílias com dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro era de 66,5% e, em junho de 2019, 64%.
Colega de trabalho de Ione, Conceição Maria dos Reis, 51 anos, também espera a contrapartida do governo para pagar a dívida com o cartão de crédito que cresce a cada dia. Ela diz que está difícil conciliar a diminuição da renda com o aumento dos preços no supermercado. “A gente vê a comida ficando cada vez mais cara”, diz.
Com a pandemia, o trabalho das duas arrumadeiras diminuiu e a hora extra, complemento importante no salário, foi cortada. Também é difícil conseguir algum serviço por fora. “Ninguém está contratando diarista por causa do vírus”, explica Conceição. Elas afirmam que, antes da pandemia, com o dinheiro do salário e do trabalho extra, estavam conseguindo manter as contas em dia.
Em nota, a CNC afirma que a renovação da alta do endividamento indica que as famílias estão demandando mais crédito no sistema bancário, seja para pagar dívidas e despesas correntes, seja para manter algum nível de consumo.
O número de famílias com dívidas ou contas em atraso chegou a 25,4% em junho, atingindo o maior nível desde dezembro de 2017 e registrando crescimento nas bases mensal (+0,3 ponto porcentual) e anual (+1,8 ponto porcentual).
O total de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes chegou a 11,6% – patamar mais alto desde novembro de 2012.
Controle rígido
Cristina Helena Mello, doutora em Economia e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), dá algumas dicas para não cair no endividamento ou sair dele. A primeira é consultar sempre o extrato bancário e do cartão de crédito para monitorar os gastos. “É necessário estabelecer um controle somando os valores gastos no cartão para não ser surpreendido no próximo mês”, diz.
Outra recomendação é negociar as despesas fixas como, por exemplo, o aluguel. Controlar o consumo de energia elétrica e gás encanado também pode fazer diferença no fim do mês.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Mariana Durão e Mariana Hallal
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