O dólar firmou queda na parte da tarde desta sexta-feira, 19, após manhã volátil e subir 10% nas últimas sete sessões. A moeda americana acumulou valorização de 5,4% na semana, a segunda consecutiva de ganhos. O câmbio tem sido pressionado tanto pela piora do ambiente externo, em meio ao aumento de casos de coronavírus na China e em parte dos Estados Unidos, e pelos ruídos políticos no Brasil. Hoje, operadores destacam que foi mais um movimento de realização de ganhos, favorecido pelo recuo da divisa americana nos mercados emergentes, mas a tendência é que a pressão para alta persista, por conta do aumento da incerteza após a prisão de Fabrício Queiróz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Mesmo com a queda de hoje, o dólar acumula alta de 32,5% no ano, com o real se mantendo no posto de moeda com pior desempenho internacional, em uma cesta de 34 divisas. No encerramento da sexta-feira, terminou cotado em R$ 5,3180, em queda de 0,98%.
A economista-chefe e estrategista do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, avalia que o dólar na casa dos R$ 5,30 reflete o estresse político e econômico que o país atravessa. Considerando o cenário atual, ela comenta que a moeda americana a R$ 4,90, como estava no último dia 9, embute um exagero de otimismo, descolado da realidade, assim como os R$ 5,96 do dia que o ex-ministro Sergio Moro deixou o cargo mostra um exagero de pessimismo.
A prisão de Queiroz, ressalta Fernanda, não foi exatamente uma surpresa, mas serviu para confirmar o cenário altamente incerto no mundo político. Por isso, pela frente, no mercado doméstico, será preciso monitorar os desdobramentos políticos do caso e o ciclo da pandemia de coronavírus, que ajuda a dar pistas do que esperar da retomada da atividade. Enquanto no primeiro mundo muitas economias podem ter recuperação econômica mais rápida, em V, aqui persistem as dúvidas, ressalta a economista.
“Diferente das outras semanas, o cenário interno agravou a desvalorização da moeda brasileira”, ressalta o chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Os eventos recentes na política, com a prisão de Queiróz na casa do advogado da família Bolsonaro, e a saída do ministro da educação, Abraham Weintraunb, em meio à pressão do Supremo, aumentam as dúvidas sobre a governabilidade do presidente, ressalta ele. “O cenário ainda é bem obscuro, então certamente teremos volatilidade no câmbio.”
No exterior, a afirmação de autoridades chinesas da intenção de comprar mais produtos agrícolas americanas ajudou no otimismo pela manhã, mas nos negócios da tarde, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, voltou a criticar o país asiático, afirmando que Pequim mentiu sobre o coronavírus, e voltou a fortalecer o dólar. A decisão da Apple de fechar parte das lojas nos EUA também ajudou a estimular a fuga de ativos de risco.
Por Altamiro Silva Junior
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