O Banco Central deixou a porta entreaberta para novo corte de juros, mas jogou um “balde de água fria” em quem esperava redução muito maior pela frente. Se vier um novo ajuste, será pequeno, provavelmente de 0,25 ponto porcentual, disse ao Estadão/Broadcast o chefe de economia e estratégia do Bank of America no Brasil, David Beker.
Para o estrategista da instituição financeira, a atividade econômica do País já pode ter chegado ao fundo do poço e há chance de o Produto Interno Bruto (PIB) cair menos neste ano do que a retração de 7,7% atualmente projetada pelo banco americano.
Como o sr. avalia a decisão do Copom de cortar os juros para 2,25% ao ano?
O corte foi o que todo mundo projetava. Eu esperava que ele trouxesse uma linguagem mostrando dependência de dados, que o comunicado trouxe, ao deixar a porta entreaberta para novo corte. Mas o Banco Central disse que, se tiver uma redução residual, ela vai depender dos indicadores. Deixar a porta aberta é bom. Considerando os riscos, não vale a pena fechá-la. Ao mostrar dependência de dados, o BC está preservando o grau de liberdade. No limite, ele pode recalibrar a decisão.
Em termos de sinalização do BC, o que esperar para as próximas reuniões?
Em relação ao que o mercado discutiu como possibilidade para a reunião deste mês, tinha muita gente falando em mais um corte de 50 pontos, eventualmente podendo ir até além disso. Nesse sentido, o BC acabou dando uma mensagem um pouco mais conservadora, quando disse que o estímulo parece suficiente, compatível com os impactos econômicos e vai monitorar os dados. Ele talvez possa ter jogado um balde de água fria na expectativa de muito mais cortes.
É mais provável um novo corte de 0,25 ponto?
Tem de esperar como os dados vão evoluir, mas o BC fala em corte residual. Resíduo é uma coisa pequena. Meu cenário é que pararam os cortes, vamos reavaliar, dependendo dos indicadores e da ata na semana que vem. Mas se tiver mais um corte, está mais com cara de 0,25 ponto do que de 0,50. O BC não fechou a porta completamente, mas deu a entender que o risco é de corte pequeno.
Após os recentes indicadores de atividade, mudou sua visão para o PIB do Brasil este ano?
Prevemos queda de 7,7% este ano. Se me perguntassem há três semanas sobre os riscos, eu diria que seria para um número pior. Hoje acho que talvez seja para número levemente melhor. Ao olhar o mundo, a volta tem sido muito rápida nos EUA, na China. O mercado ficou um pouco mais animado com a velocidade da recuperação. No comunicado do BC tem um trecho interessante sobre monitorar todos os impactos do estímulo, dando a entender que talvez a queda da atividade não seja tão ruim quanto se imaginou em um primeiro momento. Nas conversas que temos tido com empresas, as pessoas com quem conversamos dizem que não é aquele pior cenário que tinham desenhado. Não é um bom cenário, mas não é o pior cenário.
O sr. acredita que a atividade econômica já atingiu o fundo do poço?
Parece que o pior mesmo foi o primeiro semestre. A discussão agora é sobre a velocidade da retomada e quais os riscos para ela, em particular a segunda onda de infecções em outros lugares. No Brasil, infelizmente, ainda não superamos a primeira onda.
A decisão do BC para os juros pode ter algum impacto no câmbio?
Como a discussão que havia é que o Brasil talvez pudesse chegar a níveis ainda mais baixos de juros, o tom do comunicado foi positivo (para o câmbio). Projetamos o dólar em R$ 5,40 no fim do ano.
A decisão do BC deve ter algum impacto no mercado de juros futuros?
Talvez nos contratos mais curtos tenha leve alta, mas, como o BC está falando que se tiver um novo corte será residual, pode ajudar a curva a aplanar um pouco.
Com o novo corte, a taxa de juros real do Brasil está muito baixa. Isso pode ter impacto negativo para investimentos estrangeiros?
Depende da classe de ativos, na renda fixa, sim. A discussão é como o juro baixo pode melhorar o crescimento e atrair recursos para outros ativos, principalmente em ações. O investidor estrangeiro está muito pouco alocado em Brasil em renda fixa e ainda tem muito espaço para alocação na renda variável. Mas também depende de crescimento, da lucratividade das empresas. Não necessariamente vem de imediato.
Qual sua expectativa de os juros voltarem a subir no Brasil?
É uma discussão para meados do ano que vem, dependendo da retomada da atividade. Em 2021, para todas as reuniões a curva precifica aumentos de 25 a 40 pontos-base (0,24 a 0,40 ponto porcentual). O mercado parece que está precificando o risco, não só da alta, mas do cenário, a incerteza fiscal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Altamiro Silva Junior
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