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Curva ganha inclinação com expectativa em corte da Selic e pressão do câmbio

A curva de juros ganhou um pouco de inclinação nesta véspera de decisão de política monetária no Brasil, refletindo o aumento das apostas numa flexibilização adicional da Selic após o esperado corte de 0,75 ponto porcentual da Selic nesta quarta-feira, 17, e um certo desconforto com o cenário fiscal, mesmo que o mercado tenha gostado da forma como está sendo feita a transição no comando do Tesouro. As taxas curtas recuaram, as do miolo da curva fecharam de lado e as longas subiram.

O avanço da ponta longa foi amparado pela piora no câmbio, mas ao mesmo tempo limitado pela perspectiva de liquidez abundante no sistema financeiro global. A decisão do Federal Reserve ontem de comprar títulos corporativos ainda ecoa nos mercados e, aparentemente, se sobrepõe ao aumento do risco de nova onda de contágio da covid-19 após Pequim fechar suas escolas em razão do ressurgimento de mais de 100 casos desde a semana passada.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) mais líquido nesta terça, 16, foi o julho de 2020, justamente o primeiro a vencer após o Copom de amanhã. Fechou com taxa de 2,32%, de 2,315% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 3,08% (3,05% ontem) e a taxa do DI para janeiro de 2027 passou de 6,642% para 6,74% (máxima).

Segundo o economista-chefe do Haitong Banco de Investimentos, Flávio Serrano, considerando as reuniões do Copom de junho e agosto, a precificação é de queda da Selic de 90 pontos-base, ante 88 pontos ontem. “Grosso modo, temos grande chance de corte de 75 pontos amanhã e uma probabilidade alta de novo corte de 25 pontos em agosto, algo como 50% a 60%”, explicou. A precificação de redução em agosto era de 18 pontos ontem e subiu para 22 pontos hoje, sendo que pela manhã havia chegado em 24 pontos.

O operador de renda fixa da Terra Investimentos, Paulo Nepomuceno, diz que, tanto a partir dos fundamentos quanto do ponto de vista da arbitragem no câmbio, há espaço para nova queda da Selic em agosto porque a inflação e a atividade estão muito fracas e o Brasil, comparativamente a economias que estão com juros praticamente em zero, ainda oferece risco interessante. “Com esse caminhão de dinheiro no mundo, para o investidor o Brasil ainda valeria a pena”, disse. Nesta manhã, a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) deu nova evidência dos estragos da pandemia na economia doméstica. As vendas do varejo nos conceito restrito e ampliado caíram em abril 16,8% e 17,5% ante março, os piores resultados da série histórica.

Porém, há desconforto com o cenário político. Não caiu bem a declaração do presidente Jair Bolsonaro, ontem, descartando a possibilidade de uma retomada de reformas econômicas ainda este ano. Embora o mercado já não contasse com isso, fica a impressão de que essa agenda não é prioritária. “Mandou muito mal, parece que está preocupado mais com os problemas dele. Ele dizer isso quando Mansueto está anunciando sua saída é um sinal ruim”, disse Nepomuceno.

Por Denise Abarca

Estadão Conteúdo

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