Maior processadora de carne no mundo, a brasileira JBS, dos irmãos Batista, diz que assumiu o compromisso de manter os investimentos de R$ 8 bilhões que havia anunciado para os próximos cinco anos. Além disso, de acordo com o presidente global da companhia, Gilberto Tomazoni, a empresa continuou a contratar mesmo depois do início da pandemia de coronavírus. “Não só assumimos o compromisso de não demitir, mas também já contratamos mais 3 mil pessoas (nos últimos meses)”, disse ontem o executivo, durante a série de entrevistas ao vivo Economia na Quarentena, do Estadão.
A JBS tem sofrido, especialmente no sul do País, questionamentos pelo alto índice de contaminação de funcionários por covid-19 – o Ministério Público do Trabalho (MPT) solicitou, na quarta-feira, o fechamento da unidade de Caxias do Sul. Tomazoni disse, porém, que o grupo buscou, desde o início da pandemia, especialistas de saúde para cuidar da saúde dos colaboradores.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Como a pandemia tem afetado a JBS no Brasil e nos EUA, seus dois principais mercados?
A pandemia fez com que nós aprendêssemos bastante, embora não tenhamos respostas para tudo. Começamos as reuniões da empresa com o (tema) segurança e saúde do trabalhador. Buscamos ajuda de especialistas na questão dos protocolos no Brasil e no exterior. Temos um comitê de gestão na crise, que se reúne três vezes por semana.
Como está a demanda por produtos do grupo?
O consumo teve mudança de canal. Mudou do food service (fornecimento para restaurantes) para o varejo. Mas, é claro, que na soma a demanda ficou menor. Mas isso não muda os fundamentos do negócio. Até 2050, o mundo vai precisar de 70% a mais de proteína animal. Isso não vai mudar.
Diante disso, como ficaram as exportações na pandemia?
Num primeiro momento, houve alta de demanda. No momento seguinte, cada um dos mercados começou a viver características próprias. Na Europa, por exemplo, houve queda por conta do turismo. Agora, que a economia vai voltar, vamos ver como se restabelece.
Na quarta-feira, o Ministério Público do Trabalho pediu a interdição do fábrica da companhia em Caxias do Sul. Em Passo Fundo, tem mais de 60 contaminados. Houve falhas de segurança no sul do País?
O assunto de segurança é muito importante para a companhia. Quando começou a pandemia, adotamos práticas de segurança adicionais. Contratamos o Hospital Albert Einstein e o infectologista Adauto Castelo para nos ajudar a avaliar os nossos protocolos. Os nossos protocolos são muito parecidos com os de UTIs. Estamos adotando todas as medidas possíveis para atender nossos trabalhadores.
Há setores pedindo ajuda ao governo. Essa estratégia recebeu muitas críticas no passado – a JBS foi uma das campeãs nacionais. O setor de carnes vai precisar de ajuda?
Fizemos um trabalho nos últimos anos de reforço da liquidez e redução de dívida. Terminamos o ano com um dos melhores balanços da nossa história. Temos R$ 24 bilhões em caixa. Mesmo sem gerar caixa, não precisaremos de dinheiro novo para dívidas até 2025.
A JBS demitiu na crise?
Quando a pandemia começou, a gente falou que não ia demitir. Desde então, contratamos 3 mil novos colaboradores. Vamos manter os investimentos de R$ 8 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos e mais R$ 5 bilhões pelos nossos parceiros.
Como a JBS avalia que deve ser a retomada da economia?
Estamos integrados com as autoridades locais. Fizemos doação de R$ 400 milhões para combate ao coronavírus, sendo R$ 330 milhões para sistemas de saúde pública, R$ 50 milhões para ciência e pesquisa e R$ 20 milhões para ONGs. Para o mercado externo, foram mais R$ 300 milhões.
Recentemente, as ONGs se posicionaram contra as declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Qual é a visão da JBS sobre esse tema?
Temos uma política de zero desmatamento. Temos um monitoramento por georreferenciamento por satélite. Nós monitoramos uma área maior do que a Alemanha. Nós temos 35 mil produtores cadastrados – e 9 mil que foram descredenciadas. Esses produtores são auditados por empresa externa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernando Scheller e Mônica Scaramuzzo
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