A jornalista do Estadão Gabriela Biló teve seus dados divulgados nesta quarta-feira por um perfil do Twitter que reúne apoiadores do governo Jair Bolsonaro. A conta chamada Black Dog compartilhou dados pessoais da fotógrafa, como RG, CPF, telefone, endereço e uma foto da casa de sua família, em São Paulo. Criada em 6 de março de 2019, a conta tem 8.879 seguidores.
Procurado, o Twitter informou ter regras que determinam os comportamentos e conteúdos permitidos na plataforma, incluindo a política de informações privadas. “Após o recebimento de denúncias de possíveis violações a essa política, uma equipe do Twitter analisa o caso e toma as medidas cabíveis”, informou a rede social.
Um trecho de uma entrevista concedida pela jornalista, em 2018, para estudantes da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) foi editado e compartilhado pelo perfil de forma a distorcer a declaração da profissional; assim como outro vídeo filmado pelo militante bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que se apresenta como “jornalista investigativo” no Twitter, de quando a fotógrafa fazia uma reportagem em frente ao endereço da ativista Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter. O vídeo foi editado para sugerir que a repórter ameaçou dar um tiro na ativista.
O trecho editado traz Sara afirmando para a repórter: “Me ameaçou e disse que a ordem é dar um tiro na minha cara. É eu morrer com um tiro na minha cara”. A frase sem edição é: “Você sabia que o Antifas (grupo contra o fascismo) me ameaçou e disse que a ordem é dar um tiro na minha cara para eu morrer com um tiro na minha cara?”
A repórter estava em frente ao endereço da ativista para acompanhar o trabalho da Polícia Federal, que havia ido ao local para intimar Sara a prestar depoimento no inquérito das fake news, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF). Desde então, a fotógrafa vem sendo atacada nas redes sociais.
Foi a própria Sara quem divulgou no Twitter que a Polícia Federal estava na casa dela. Além do Estadão, outros órgãos de imprensa foram ao local cobrir a ação da PF, como de costume, nesse tipo de situação.
Na ocasião, Gabriela Biló estava do outro lado da rua da casa da ativista quando foi abordada por ela e por Oswaldo Eustáquio. Os dois a agrediram verbalmente e Eustáquio tentou impedir a equipe de deixar o local, se recusando a tirar a mão da porta do carro.
Ele já foi condenado, em fevereiro, a indenizar o jornalista Glenn Greenwald por ter ofendido a mãe dele, Arlene Greenwald, que morreu em dezembro vítima de um tumor no cérebro. Meses antes, o militante postou nas redes sociais que a doença da mãe de Greenwald era mentira. A mulher dele, Sandra Terena, é secretária nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
O vídeo publicado pela conta no Twitter Black Dog não mostra os xingamentos feitos à repórter pela ativista e pelo militante que a acompanhava. Diante das agressões, a profissional questionou se a Polícia Federal havia estado no endereço e, sem resposta, se retirou do local. O endereço da ativista não foi divulgado pelo Estadão em nenhum momento.
Edição
O vídeo ainda traz outros trechos editados e colocados de forma descontextualizada da entrevista da jornalista para estudantes da USP, direcionada a alunos do curso de Jornalismo. Em um deles, Gabriela fala sobre a “recompensa social” da cobertura jornalística, mas a palavra “social” foi suprimida e “recompensa” é repetida várias vezes enquanto na imagem aparecem cifrões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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