Enquanto alguns dos movimentos em defesa da democracia que surgiram nos últimos dias foram criados por entidades que representam setores da sociedade, como juristas ou integrantes de movimentos de renovação política, por exemplo, outros grupos começaram a se juntar a partir da atuação pessoal de seus líderes.
O motorista de aplicativo Danilo Pássaro, 27 anos, por exemplo, participou de um ato político pela primeira vez no domingo, quando foi à Avenida Paulista protestar junto com o movimento Somos Democracia. O protesto, que reuniu integrantes de torcidas organizadas para se contrapor a um ato a favor do presidente Jair Bolsonaro, acabou em confusão com a Polícia Militar, que usou bombas de gás.
Morador da Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo, Pássaro é filiado ao PSOL e diz que sua formação vem de suas vivências na igreja, no movimento estudantil e na arquibancada do Corinthians.
“Cresci em Igreja Evangélica. Sempre gostei de estudar a bíblia, mas via uma diferença muito grande entre a prática de muitas igrejas e os ensinamentos de Jesus, de olhar pelos mais necessitados”, disse. Atualmente frequentador da Igreja Batista, Pássaro, que é formado em Teologia, chegou a servir como missionário no Haiti pela Igreja Bola de Neve.
Como estudante, o jovem sempre frequentou a rede pública, onde tomou contato com o movimento estudantil. “Foi lá que eu conheci pessoas ligadas a partidos políticos e movimentos sociais e consegui me aprofundar mais”, diz.
Integrante da Gaviões da Fiel desde os 13 anos, ele afirma que o movimento que levou à criação do Somos Democracia nasceu entre os torcedores, diante do que consideram escalada autoritária do governo federal. A tradição do clube em apoio à democracia, conta Pássaro, serviu de inspiração para o movimento.
“A história da Democracia Corintiana é uma diretriz para a gente, mas não só o movimento de Sócrates e Casagrande, toda a história do Corinthians.” A exposição que teve após a participação no ato fez com que Danilo fosse alvo de ameaças nas redes sociais, embora não o tenha levado a registrar boletim de ocorrência.”
Na manhã de ontem, o universitário conversou com o Estadão vestido com a camiseta da seleção brasileira, frequentemente utilizada em protestos de bolsonaristas. “A extrema direita se apropria de símbolos nacionais justamente para cooptar o patriotismo abstrato da população e acho que a gente chegou num momento, dada essa disputa de narrativas, de também nos apropriar dessas bandeiras, camisas, símbolos”, afirma.
Além de dirigir o Somos Democracia, Danilo é estudante do curso de História da Universidade de São Paulo (USP).
Viralizou
Responsável por criar e espalhar a hashtag (palavra-chave) “Somos 70 por cento”, compartilhada por usuários de diversas redes sociais no último fim de semana, o economista Eduardo Moreira disse que não tinha grandes pretensões. “A ideia surgiu num debate. Apesar do aumento da rejeição ao presidente mostrada na pesquisa, os participantes se mostraram frustrados por conta dos 30% que apoiam o presidente não terem baixado de patamar”, disse Moreira.
“Disse, então, a frase: ‘o problema do Brasil é que os 30% se sentem como 70%. Os 70% se sentem como 30%”. Senti que a frase tinha acertado o alvo. Postei ela então no twitter e ali começou o movimento.”
Segundo o economista, os representantes dos outros 30% – que são, portanto, minoria – colocaram a maioria com medo com seus robôs e estratégias de difamação e violência. “Alguém que faça parte de um grupo de WhatsApp com 100 pessoas onde 5 são radicais bolsonaristas não têm coragem de se expor, por se sentir como se minoria fosse. A ideia do movimento é resgatar esse direito, empoderar as pessoas para que voltem a falar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Adriana Ferraz e Renato Vasconcelos
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