O dólar caiu 1,83% em maio, o primeiro mês de 2020 que fecha em queda. A última baixa mensal havia sido em dezembro de 2019. A moeda americana também acumulou a segunda semana seguida de desvalorização. Na sessão desta sexta, 29, houve dois movimentos distintos. Pela manhã, fatores técnicos predominaram e o dólar operou em alta, por conta da disputa entre investidores pela formação do referencial Ptax de maio, usado em contratos cambiais e balanços corporativos.
Nos negócios da tarde, a divisa americana caiu após a entrevista de Donald Trump sobre a China, que havia gerado apreensão desde a tarde de ontem, não trazer maiores novidades sobre medidas de retaliação da Casa Branca ao país asiático. Nas mesas de câmbio persiste ainda a cautela com o ambiente político. O dólar à vista fechou a sexta-feira em queda de 0,82%, a R$ 5,3389. O dólar futuro para julho recuava 1,53%, a R$ 5,3345 às 17h.
Um dos temores ontem era de que Trump fosse anunciar nova rodada de aumento de tarifas ou alterasse o acordo comercial fase 1, o que pioraria ainda mais a relação entre Washington e Pequim. Mas na entrevista as medidas se limitaram a cidadãos chinesas e a retirada do tratamento diferencial dos EUA a Hong Kong. “Não houve nenhuma notícia bombástica de Trump”, avalia a diretora em Nova York de moedas da BK Asset Management, Kathy Lien. A coletiva de imprensa não revelou nada excepcionalmente prejudicial para a relação entre China e EUA e ainda não houve menção de tarifas ou de mudanças no acordo comercial fase 1 assinado entre os dois países, completa a analista.
Apesar da queda no mês, o dólar fechou maio acumulando valorização de 33% em 2020, com o real ainda mantendo o pior desempenho ante o dólar nos principais mercados emergentes. O sócio da Ibiuna Investimentos, Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Banco Central, ressalta que o dólar chegou a subir 45% este ano, mais do que as maxidesvalorizações dos anos 80 ou 90, quando a disparada chegava ao redor dos 30%, disse durante live hoje do Credit Suisse.
Para Azevedo, os juros têm espaços para cair mais, como mostram os canais do crédito, de câmbio e das expectativas, mas o processo precisa ser conduzido com cuidado. “Se vai testar o limite para baixo da taxa de juros vai testar para cima o limite da taxa de câmbio”, disse ele. Para o ex-diretor do BC, o câmbio pode até ir se depreciando, “mas temos que ter cuidado com níveis excessivos”. “O câmbio ainda é termômetro de confiança”, comentou.
Na mesma live, o ex-diretor do BC, Daniel Gleizer, atualmente pesquisador na Universidade de Columbia, em Nova York, disse que o Brasil tem uma “tempestade perfeita”, com uma crise sanitária, uma econômica e uma política. “Não tem ninguém que está tento uma crise política desta magnitude”, afirmou. “Diferenças sempre existem no mundo político, aqui estamos em situação de falta de coordenação e pressão dos Estados para perdão de dívida”, completou.
Por Altamiro Silva Junior
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