Um dos principais empresários do setor imobiliário, Meyer Nigri, fundador da incorporadora Tecnisa, defende a retomada ao trabalho para evitar uma crise econômica ainda mais profunda no País, mesmo em um cenário de alto índice de mortes por causa da pandemia da covid-19. “Minha posição é de não abrir tudo. O risco tem de compensar. Vamos correr algum tipo de risco que possa gerar emprego. Sou a favor de liberar com critério”, disse.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
O setor imobiliário vivia um novo boom antes de quarentena. O sr. vê a volta dos distratos com a pandemia?
Antes do coronavírus, os distratos (rompimento de contrato) tinham caído a níveis muito baixos. Agora, pós-covid-19, não acredito que vá ter pedido muito significativo de distratos, considerando que os que compraram recentemente precisam do imóvel.
As incorporadoras e construtoras vão tentar renegociar?
O distrato não interessa a nenhuma das partes. A empresa perde e comprador também. É muito mais provável que as empresas vão tentar fazer acordo.
Como está o cenário para a Tecnisa em meio à pandemia? Fizeram demissões?
Não demitimos ninguém nos escritórios ou obras. As obras continuaram andando e foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Medimos a temperatura de todos os funcionários, todos os dias. Eles recebem máscaras e álcool em gel e trabalham em lugar aberto.
Analisando o mercado imobiliário, haverá menor demanda por imóveis comerciais?
Não sou especialista em escritórios, mas a sensação que tenho é que, num primeiro momento, haverá mais pessoas fazendo home office e isso deve demandar menos espaço. Por outro lado, vamos precisar não adensar tanto e espaçar mais.
E em relação aos imóveis residenciais? Vai ter correção de preços para baixo?
Não acredito, a não ser em imóveis avulsos. Para o incorporador, os preços não caem. As projeções até o início do ano eram de que os preços dos imóveis subissem. Não acho que vá subir. Para ter um bom ambiente no mercado imobiliário, é preciso duas coisas: emprego e financiamento imobiliário. O financiamento existe. É preciso ver como o nível de emprego fica.
Há um desalinhamento do governo federal com parte dos governadores sobre o isolamento social. Qual sua opinião?
Não sou especialista. Minha opinião é que o isolamento total faria mais sentido (em um primeiro momento). Porém, o brasileiro é indisciplinado – não somos nem Coreia nem Japão. Não adianta Jardins e Oscar Freire estarem com lojas fechadas, mas a periferia estar com todos circulando, transportes cheios. Se abrir serviços dentro dos protocolos, o risco de contaminação é mínimo. Estamos num jogo que não tem ganha-perde. É perde-perde. Temos de decidir com qual (estratégia) que se perde menos. Eu me preocupo muito com essa brecada porque vamos pagar esse preço depois.
Vivemos neste momento uma instabilidade política em cima da crise econômica e sanitária. Isso atrapalha ainda mais?
Claro. Sem entendimento entre as partes, todos perdem.
Com o aumento de casos de coronavírus no Brasil, a pressão pela retomada da economia não minimiza a gravidade da situação da crise de saúde?
Quem é a favor de voltar ao trabalho não está minimizando o tamanho da pandemia. Não é uma decisão (apenas) de saúde. Temos de tomar a decisão de perder um ou perder 20. Sei que é difícil para o político assumir que algumas pessoas vão morrer. Se não trabalharmos, a perda vai ser pior. Acho que ter parado por algum tempo foi saudável, para conscientizar a população. E não são todos os setores (que precisam voltar), são apenas aqueles que fazem a economia girar. O risco tem de compensar, tem de ter algum benefício do outro lado. Temos de arriscar um pouco para poder gerar empregos e diminuir o problema social.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernando Scheller
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