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Especialistas veem riscos em reabertura; mortes em SP sobem 18% em uma semana

A proposta de iniciar a reabertura no Estado de São Paulo, sem a clareza de que estamos em uma curva descendente de infecções, é arriscada, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão. Além disso, pode desperdiçar resultados do isolamento social na quarentena.

Na capital, por exemplo, a taxa de ocupação das UTIs era de 92% nesta quarta-feira. A Prefeitura argumenta, porém, que é possível ampliar a rede disponível, uma vez que pode alugar leitos da rede privada. Na última semana, o número de mortes na cidade aumentou 18,2%, passando de 3.252 para 3.844 registros.

“Como a rede hospitalar já está bem ocupada, o provável é que o governo tenha de segurar ou mesmo rever essa reabertura em algumas semanas. Porque a tendência é aumentar o Rt (índice de transmissão) e consequentemente mais caso”, opinou Daniel Dourado, médico e advogado sanitarista, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da USP. “O que precisa fazer agora é cobrar do governo estadual para mostrar essa avaliação entre Rt e casos esperados diante da capacidade da rede.”

Professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciência Médicas da Santa Casa de São Paulo, a epidemiologista Maria Amélia Veras diz ter recebido a notícia da reabertura com “preocupação”. Ela alerta que, para o plano dar certo, o monitoramento da pandemia não pode falhar — hipótese pouco provável diante do cenário de subnotificação de casos, da ausência de dados conclusivos sobre prevalência (a chamada “imunidade de rebanho”) e até da possível pressão política em alguns municípios.

“É racional adotar medidas diferenciadas de acordo com a transmissão de cada região, mas tenho certa dúvida sobre o calibre dos dados existentes que podem fundamentar essa decisão”, afirma Maria Amélia. “Para revisar toda semana, precisa haver um monitoramento muito fino que permita intervenção rápida. Se o diagnóstico falhar ou as informações disponíveis não forem suficientes, pode acontecer um desastre.”

Professor de administração pública da FGV, Nelson Marconi, lembrou que Coreia do Sul, China e Vietnã só começaram a flexibilizar o isolamento após queda no nível de contágio. Em comum, também haviam testado a população em massa e usar a tecnologia para monitorar as pessoas em locais públicos.

“Somos atualmente o epicentro da doença do mundo. Entendo a reabertura como risco e me parece que foi tomada sob pressão do setor do comércio. O momento, na minha opinião, era de pressionar o governo federal para que colocasse à disposição um programa de renda mais amplo e linhas de créditos mais fáceis para o pequeno empresário. A reabertura pode gerar uma segunda onda e piorar o sistema público de saúde.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por João Prata, Felipe Resk e Ludimila Honorato

Estadão Conteúdo

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