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Em dia de megaleilã, Juros longos fecham com viés de alta com risco político

Os juros futuros fecharam a quinta-feira, 28, perto da estabilidade, com viés de alta na ponta longa da curva. As taxas oscilaram a maior parte do dia rondando os ajustes de ontem, refletindo o cenário político pouco animador para a montagem de posições, a agenda de indicadores sem surpresa e o dólar novamente em alta. O destaque do dia foi mesmo o megaleilão de títulos prefixados realizado pelo Tesouro, que chegou a exercer influência pontual sobre as taxas na B3 no meio do dia. A oferta de 12 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN), vendida quase integralmente, representou o maior volume financeiro do ano, segundo fontes do mercado. Logo após o leilão, as taxas tentaram engatar trajetória de queda, renovando mínimas alinhadas a uma melhora do humor nos ativos em Nova York, mas o movimento não prosperou e encerraram de lado, com viés de alta na ponta longa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 3,221% para 3,19% e a do DI para janeiro de 2025 passou de 5,983% para 6,02% e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 6,97%, de 6,932%.

Mesmo num dia de leilão grande de títulos, a liquidez do DI continuou fraca. Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, acredita que a falta de prêmio e o cenário político conturbado estão inibindo o apetite do investidor. Segundo ele, é de se esperar que a curva fique “amassada” num período em que a economia precisa de estímulos, mas tem de ser algo temporário e no Brasil não se sabe o quanto tempo isso pode durar. “Em qualquer lugar do mundo, a curva tem de ter prêmio”, lembrou. Além disso, acrescentou, há os efeitos da pandemia que por si só reduziram o tamanho do mercado, colocando equipes de bancos e corretoras em home office.

Na política, o embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) acirrou-se após a operação da Polícia Federal ontem que teve como alvos empresários e políticos próximos ao presidente, em inquérito que apura ataques e fake news contra ministros da Corte. Bolsonaro hoje elevou o tom. “Acabou, porra!”, esbravejou o presidente. “Não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoais certas ações”, disse.

A quinta-feira teve um fator técnico especial. O leilão chamou a atenção pelo volume de LTN, 12 milhões ante 10 milhões na operação anterior. O Tesouro vendeu quase tudo, 11,7 milhões, enquanto a oferta de 100 mil NTN-F teve demanda mais baixa, com a instituição colocando apenas 55 mil títulos, sendo a maioria (40 mil) no vencimento de 2031.

Bruno Mota, diretor da Mesa de Títulos Públicos da Renascença DTVM, afirma que a oferta está alinhada ao discurso do Tesouro, de que iria emitir mais papéis de curto prazo (LTN) e também LFT – vendeu hoje 667,9 mil LFT, ante oferta de até 750 mil. “Está seguindo a cartilha”, disse, acrescentando que o colchão de liquidez permite à instituição não emitir papéis longos se não for vantajoso. Além do mais, em outra carta na manga, o Tesouro poderá, em condições mais extremas de liquidez, utilizar recursos do resultado do Banco Central.

Por Denise Abarca

Estadão Conteúdo

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