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1.223 na UTI: a luta na maior rede de hospitais do País

O comerciante Airton Perez, de 77 anos, sempre foi ativo e teve boa saúde. No dia 15 de março, achou estranho quando começou a sentir um mal-estar e cansaço. Pediu ao filho que o levasse ao hospital. Na mesma data, foi internado na UTI do Hospital São Luiz Jabaquara com covid-19. Quatro dias depois, teve de ser entubado. Ficou em ventilação mecânica por duas semanas, esperou outros 12 dias para ir da UTI para o quarto e, em 28 de abril, quando o jornal O Estado de S. Paulo o entrevistou em seu leito, continuava internado, por causa de problemas renais.

“Nunca tive problema nos rins. Até isso essa doença afetou”, contou ele, no 45.º dia de internação.

O comerciante foi o primeiro paciente a ser internado no São Luiz Jabaquara com diagnóstico da doença. O centro médico foi escolhido como unidade especializada da Rede D’Or São Luiz em São Paulo para pacientes com coronavírus.

Maior rede hospitalar privada do País, com 7,3 mil leitos, 30% deles de UTI, a empresa começou a montar uma operação de guerra já em janeiro, quando o surto de covid-19 ainda estava restrito a cidades chinesas. Mesmo com a criação de comitês de emergência, ampliação de leitos e aumento de contratações, o que gestores, médicos, enfermeiros e pacientes não esperavam era que o inimigo fosse tão rápido, agressivo e traiçoeiro.

No sábado, dia 2, a rede contabilizava em seus mais de 50 hospitais espalhados pelo País 1.808 pacientes internados com coronavírus, dos quais 1.223 (67%) estão em UTIs e 367, entubados.

O jornal O Estado de S. Paulo acompanhou por dois dias a rotina em dois hospitais da rede – o São Luiz Jabaquara e o Vila Nova Star, ambos na zona sul da capital paulista.

A história de Airton Perez – ou ‘seu Airton’, como ele ficou conhecido entre os funcionários – dá uma ideia do desafio: internações prolongadas, danos a outros órgãos além do pulmão e pioras repentinas são alguns dos aspectos que surpreendem as equipes de saúde. “A gente repara que pacientes que estão bem clinicamente afundam de uma hora para outra”, resume Mauro Borghi, diretor regional.

Dos 40 leitos de UTI dedicados à covid-19 no hospital, 38 estavam preenchidos no dia da visita. O hospital já tem um plano, caso precise de mais espaço. “Adaptamos um andar de leitos de enfermaria”, explica Thiago Portela Caroccini, gerente de enfermagem.

O Vila Nova Star também antecipou a abertura de dez leitos de UTI além dos 20 existentes. “Nos preparamos porque é um vírus traiçoeiro, ataca de formas distintas. O paciente pode ter trombose, lesões de pele, comprometimento muscular. Tem casos de pacientes que perderam 6 quilos em duas semanas. Nós ainda não vimos tudo que ele pode causar”, diz Paulo Hoff, médico do Vila Nova e presidente da Oncologia d’Or.

Quem pensa que a ameaça está restrita a pessoas que estão no grupo de risco se surpreenderia ao ver o que a reportagem presenciou nos dois dias que acompanhou a rotina dos hospitais: pacientes jovens, alguns sem comorbidades, deitados nos leitos de UTI do hospital.

Alguns, mesmo na faixa dos 30, 40 anos, estão ou já passaram pela entubação, como a recepcionista Érica Maria Brandão, de 33 anos. Quando a reportagem a encontrou, ainda na UTI, a recepcionista havia saído do tubo há dois dias, depois de ficar mais de dez dias respirando com a ajuda de um ventilador. “Nunca imaginei que pudesse ficar tão grave.”

Perigo

Na UTI do São Luiz Jabaquara, o jornal O Estado de S. Paulo viu pacientes com insuficiência respiratória tão grave que tiveram de ser submetidos a uma traqueostomia (abertura de um orifício no pescoço e traqueia) porque já não podiam ficar com o tubo. O procedimento é feito geralmente em pacientes que já levam de mais de duas semanas entubados sem melhora suficiente para sair da ventilação mecânica.

A equipe médica e a direção dos hospitais da rede fazem reuniões diárias para discussão dos casos dos internados. O trabalho multidisciplinar aliado à tentativa de prever complicações e antecipar medidas é a estratégia da rede para evitar que a doença faça mais vítimas.

Até agora, nos 50 hospitais do grupo, foram registrados 313 óbitos em um total de mais de 10 mil internações. “Nossa taxa de letalidade é bem mais baixa do que a geral do Brasil (2,9% entre os pacientes da rede ante 6,9% no País)”, afirma Leandro Reis Tavares, vice-presidente médico da Rede D’Or São Luiz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Fabiana Cambricoli

Estadão Conteúdo

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