De uma simples garatuja, aquele rabisco que tem a “pretensão” de desenho, até verdadeiras historinhas das crianças um pouco mais velhas. Tristeza, saudade da escola, alegria por não estar doente ou medo de perder alguém para o coronavírus são revelados por meio do projeto Sentimentos no Papel, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Meninos e meninas de diversas idades e de vários lugares do Brasil são incentivados a desenhar suas emoções em tempos de pandemia.
“O novo coronavírus mudou a rotina das famílias e das crianças, impactando muito seu cotidiano. Neste momento, é fundamental acolhê-las e criar um ambiente em que elas possam expressar seus sentimentos. A campanha surge com este objetivo: estimular as crianças a contar como estão se sentindo por meio de desenhos”, explica Michael Klaus, chefe de Comunicação e Parcerias do Unicef no Brasil.
Lucas Fontoura, de 9 anos, morador de Manaus, Amazonas, colocou no papel os diferentes sentimentos que agora fazem parte de seu dia a dia. “Eu tenho várias emoções. É muito confuso. Num dia eu estou triste porque não posso sair de casa, não posso ver meus amigos. No outro dia estou feliz porque aprendi uma coisa nova. Depois eu fico triste de novo porque penso que pode morrer alguém próximo de mim”, explica o menino.
A criança expressa na brincadeira, no desenho, na fantasia, o que está sentindo e o que está descobrindo sobre o mundo. “No momento, temos um contexto coletivo presente na casa de todas as famílias. Muitas crianças estão ouvindo algumas palavras como “vírus” e “pandemia”, e não recebem explicação sobre o significado dessas palavras. E, ao não saber o significado, reproduzem e entendem da maneira que os recursos próprios permitem”, avalia a psicóloga Ana Beatriz Chamati, analista do comportamento e coordenadora do curso de Formação em Desenvolvimento Humano da Infância e Adolescência no Instituto de Psiquiatria da USP (IPq-HCFMUSP).
“O que tenho percebido é que as crianças estão mais sensíveis e curiosas sobre esses processos, tanto sobre o que vai voltar a ser como era antes do início do isolamento quanto sobre o que ficará das mudanças que o isolamento trouxe”, diz.
O desenho possibilita acessar o mundo interno, as percepções, afetividade, aflições, angústias e desvenda como a criança experimenta sua individualidade em relação aos outros e ao meio ambiente. A capacidade intelectual, atitude perceptiva, desenvolvimento físico, gosto estético e desenvolvimento social são alguns dos reflexos dessas produções.
“O desenho é uma interpretação criativa, pessoal e crítica a respeito do mundo. Ele pode ser pouco elaborado, como as garatujas e os rabiscos de crianças, ou, ainda, muito sofisticados como os desenhos de artistas, mas o que de fato importa é que o desenho é um recurso extremamente valioso que contribui para revelações, descobertas e possibilidades do mundo interior de seu criador”, na análise da neuropsicóloga Edyleine Bellini Peroni Benczik, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo.
Percepção e sentimento
A análise do desenho leva em consideração o desenvolvimento infantil e a faixa etária. É possível analisar processos adaptativos e expressivos, tais como: tema e conteúdo do desenho, posição, localização da página, tamanho do desenho em relação à folha, qualidade dos traços, sombreamento, transparências, uso de cores, perspectiva ou movimento. “As crianças expressam ricamente e com propriedade o que sentem e percebem. Aliás, elas percebem tudo e todos. Muitas estão sofrendo, se sentindo limitadas, ansiosas, com medo e inseguras; outras estão conseguindo olhar para os benefícios e tirar proveito desta situação difícil”, ressalta Benczik.
Ana Beatriz Chamati considera que os desenhos criados por crianças durante a pandemia do coronavírus representam, de maneira geral, essa confusão do momento atual. “É possível ver no mesmo desenho a expressão de tristeza e também de felicidade, pontos positivos e negativos sobre o que eles estão vivendo. Os desenhos expressam desejos, como casas com todos os moradores fora dela, ou fatos da realidade, como olhar o mundo pela janela em um momento que estamos privados da possibilidade de sair de casa. Essa é a magia do ato de desenhar – poder expressar fantasia, desejos, sentimentos, colocar para fora o que está dentro”, afirma.
“Eu sinto saudade de abraçar e beijar minha vó, meu vô, minha mãe”, conta Alessandra Albuquerque, 11 anos, de Fortaleza, no Ceará. “Eu desenhei a minha família brincando de massinha e corações porque eu estou gostando. A gente está dentro de casa porque não pode sair”, diz Sofia Baldinato, 5 anos, de Carapicuíba, na Grande São Paulo.
As emoções expressas nos desenhos divulgados pelo Unicef variaram das mais agradáveis de sentir, como felicidade e alegria, até as mais desagradáveis, como medo, tristeza, ansiedade, tédio, raiva e frustração. “Nos desenhos, é possível verificar que as crianças mais novas, entre 4 e 5 anos, tenderam a se sentir mais inseguras e indefesas, necessitando de mais suporte e segurança”, pondera Edyleine Bellini Peroni Benczik.
Benczik aponta, também, que alguns desenhos feitos por crianças na quarentena revelam como estão lidando com as duas faces da pandemia. “O lado ruim e o lado positivo, ou seja, o que podem tirar de proveito diante de uma situação difícil, nos dando uma grande lição de maturidade e de integração dos opostos. Por exemplo, algumas relatam gratidão por poderem estar junto de suas famílias (muitas delas, talvez, por nunca poderem conviver tanto tempo com seus pais, em função do trabalhos deles), por não estarem doentes e também por não terem nenhum parente infectado. E também por terem aprendido a mexer no computador e por poderem conversar com os colegas pelo telefone”, diz.
Enquanto os adultos se expressam por meio de lives nas redes sociais, os pequeninos têm, no desenho, um recurso artístico para despejar suas emoções em tempos de pandemia. “Apesar da expressão de suas angústias e conflitos, nos desenhos das crianças predominou o uso de cores, o que pode nos fazer pensar que a situação promovida pela pandemia é a ponta de um grande iceberg e estando apenas na superfície. Mas, lá na profundidade de seus mundos internos, ainda prevalece vida que vibra e que está prestes a ser vivida plenamente, assim que a pandemia permitir”, conclui Benzick.
Para participar da campanha do Unicef, pais, mães e responsáveis devem abrir esse espaço de diálogo com seus filhos e filhas, organizando um ambiente acolhedor em que a criança possa desenhar e falar sobre como se sente. Em seguida, os adultos podem usar o stories do Instagram, postando a foto do desenho, uma fala da criança ou um vídeo dela explicando o desenho, acompanhado da hashtag #sentimentosnopapel e marcando o perfil do Unicef Brasil.
As imagens serão selecionadas e parte delas será divulgada nas redes sociais do Unicef no País, contribuindo para dar visibilidade aos sentimentos de cada criança, em tempos de coronavírus.
Por Camila Tuchlinski
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