No momento que parte do universo político-partidário do País passou a defender abertamente o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o partido Novo afinou o discurso com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e optou por poupar o Palácio do Planalto. Os dirigentes da sigla e a bancada rejeitam a ideia de apoiar um eventual processo de impedimento e até mesmo de fazer oposição ao presidente da República.
Mas há divergências. Enquanto Zema defende Bolsonaro – publicamente e nos bastidores do grupo de governadores -, João Amoedo, fundador e ex-presidente da legenda, adotou um tom duro nas redes sociais: “Cada vez mais o bolsonarismo lembra o petismo”. Segundo ele, “renúncia ou impeachment” são as únicas saídas.
“Não foi para isso que criamos o partido. O Novo não faz oposição a uma pessoa ou projeto. Somos independentes”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o presidente da sigla, Eduardo Ribeiro, que sucedeu Amoedo.
Eleitor declarado de Bolsonaro no 2° turno em 2018, o dirigente afirma que não se arrependeu da opção e que seu voto levou em conta o cálculo de “risco institucional”. “Eram duas opções: ter de volta o PT ou o Bolsonaro. A volta do PT seria um maior risco institucional”, afirmou Ribeiro.
A bancada do Novo na Câmara – apesar de defender que se investigue as acusações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, de que Bolsonaro tentou interferir no trabalho da Polícia Federal – acredita que não há evidência de que o mandatário cometeu crime de responsabilidade passível de impeachment.
A dissonância de opiniões, na visão do professor Christian Lohbauer – cientista político liberal que foi candidato a vice na chapa presidencial encabeçada por Amoedo em 2018 – se deve ao grande crescimento da agremiação em anos recentes, sem que haja uma estrutura de tomada de decisão e posicionamento que gere unicidade nos discursos.
Ele identifica, além da direção nacional, três espécies de eixos de pensamento: a opinião de Amoedo – que é confundida com a visão da legenda por parte do eleitorado -, a visão da bancada de deputados nacionais – que, para Lohbauer, é o melhor termômetro da visão do partido – e a visão do governo de Minas.
“Somos um partido independente e somos o mais coerente, que vota sempre 8 a 0 nas pautas de transformação”, afirmou, sobre as votações unânimes da bancada. “Temos uma posição ideológica muito clara: não somos nem contra e nem a favor de governo, a gente é a favor das reformas”, completou.
Sobre as posições de Amoedo, o vice da chapa defende que ninguém pode impedi-lo de publicar o que pensa. “Mas as pessoas associam à opinião do partido, que não existe”, acrescentou. Em relação a Zema, Lohbauer afirma que é mais importante para o governador de Minas ter uma boa relação com o governo federal, de quem o Estado depende financeiramente.
O deputado Paulo Ganime, líder do Novo na Câmara, concorda. “O Amoedo, como não possui mais a responsabilidade de comandar um partido, tem mais a liberdade de dar palpites”, afirmou o parlamentar, para quem Zema está em uma posição diferente.
“Ele está no cargo para cumprir um papel executivo, que é entregar um Estado melhor do que recebeu. Ele só deve se manifestar em temas que impactam no trabalho dele”, defendeu. Tanto Ganime quando Lohbauer consideram que a união de governadores em torno do combate à pandemia e contra posturas de Bolsonaro – movimento rechaçado por Zema – foi um movimento político e contrário aos interesses de Minas.
Ganime ainda reiterou ao jornal O Estado de S. Paulo o compromisso da bancada do Novo com a pauta da responsabilidade fiscal, mesmo em tempos de pandemia – uma ideia cara ao ministro da Economia, Paulo Guedes. “Votamos a favor de auxílios emergenciais e gastos previstos por um tempo limitado: três meses, quatro meses ou até o final do ano”, explicou. “O saldo negativo pode ficar para os próximos anos, mas não estamos ajudando a criar nenhum efeito fiscal que não seja endividamento para os anos futuros”, disse. A bancada, segundo ele, é contrária a aprovar novos gastos permanentes.
Rusgas
Apesar do apoio da bancada do Novo a muitas das pautas centrais do governo Bolsonaro, como a reforma da Previdência, aprovada antes da pandemia, a ruptura entre Moro e Bolsonaro trouxe atritos entre deputados da agremiação e o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL).
“Se eu estivesse na posição dele, eu ia querer mais é que se investigue (as acusações do Moro)”, afirmou o deputado Marcel Van Hattem ao jornal O Estado de S. Paulo, depois de ser criticado pelo bolsonarista nas redes sociais após cobrar investigações. “(O governo) Está ficando confortável com o fato de que Centrão está sendo atraído para a base, com acertos que Novo nunca pediu e nem aceitaria. Então, talvez o apoio por convicção seja agora mais desprezível”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Pedro Venceslau e Paula Reverbel
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