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Busca maior por internações colocará pressão na logística de transferências

Com a ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) próximos dos 90% na região metropolitana e após um feriado em que as taxas de isolamento social ficaram longe dos 70%, índice que o governo de São Paulo diz ser necessário para retardar o avanço do coronavírus, a Secretaria Estadual da Saúde se papara, nesta semana, para receber mais pressão por vagas de internação, o que deve colocar em teste a capacidade do Estado de transferir pacientes de uma região para a outra.

A transferência de um grande número de pacientes de uma região para outra no Estado é um processo inédito. O órgão que faz a distribuição de vagas conforme a demanda, a Central de Regulação de Oferta dos Serviços de Saúde (Cross) nunca teve, até aqui, um protocolo que levasse em consideração a distância entre o paciente e o local onde ele poderia ser internado, uma vez que todas as regiões do Estado têm serviços que são resolvidos na própria área.

“Nunca tivemos protocolos de distância porque não há essa necessidade. Normalmente, a gente encontra um serviço, aquilo que o paciente precisa, em um raio de 100 quilômetros”, disse o gerente médico da Cross, Domingos Guilherme Napoli.

Ele afirma que o contato do órgão tanto com o médico que precisa determinar a transferir quanto o que poderá receber o paciente terá de ser intenso. Essa interação será fundamental para descobrir se o doente aguentará a viagem, em um cenário de transferências mais longas. “Na grande maioria das vezes, é muito raro a gente transferir pacientes de uma região para outra. Até porque causa incômodo para os familiares, que no dia seguinte vão visitar seus parentes.”

A Cross tem 25 médicos durante o dia e 11 à noite para avaliar os pedidos de transferência, que são feitos por um sistema eletrônico. O hospital que precisa da vaga coloca em um sistema as informações sobre o paciente, analisadas pelos médicos da central. Esses profissionais, então, verificam toda a grade de serviços da saúde do Estado e indicam o local que pode receber o paciente. Dúvidas são resolvidas por telefone.

“A gente imagina que, nesta semana, vamos ter mais casos e menos ofertas dentro das regiões. O médico olha a região próxima, uma região menos longe e, eventualmente, agora nós vamos ter de olhar para uma região mais longe”, disse Napoli.

Por ora, o número de médicos encarregados de fazer a intermediação entre pacientes e vagas não deve mudar. Auxiliarem ajudam esses profissionais no órgão. Coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, o infectologista David Uip, destaca que essa deve ser a semana de maior pressão sobre a Cross, que deve continuar ao menos até a instalação de 3.000 novos respiradores, que vão abrir igual número de novos leitos de UTI, anunciados pelo governador João Doria (PSDB).

Doria prometeu que os primeiros 500 aparelhos, comprados da Ásia, devem chegar ainda nesta semana. “Essa logística (de transferências) é o que mais deve ser testado”, disse Uip.

O médico Napoli, da Cross, reforça a série de pedidos feitos por todas as autoridades de saúde do Estado sobre a importância do isolamento social para evitar o colapso de vagas. “Todo mundo sabe que a oferta de UTIs é pequena, apesar de o governo do Estado ter aumentado a oferta”, disse. “Aí, a regra do distanciamento social, do fique em casa, do use máscara, do se higienize, para tentar contaminar o menor número de pessoas em pouco tempo. Para que esta necessidade do atendimento médico seja gradativa. Quanto mais o povo sai para a rua, mais contaminados existem”, afirmou.

Ressalvas

A infectologista Raquel Stucchi, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual da Campinas, destaca que mesmo as ofertas de vagas no interior do Estado têm um limite, uma vez que as projeções são de que haverá expansão nas cidades fora da região metropolitana, nesta e na próxima semana. “Se os pacientes da capital ocuparem os leitos que estão no interior, já não haverá leitos para a população do interior.”

Assim, seria importante, na avaliação dela, que o interior reforçasse o distanciamento social nesta semana, de forma a evitar que essa procura aumente na semana que vem. Raquel aponta ainda uma série de cuidados que um plano de transferências de pacientes com coronavírus deve seguir – eles vão de conseguir manter pacientes de UTI em trânsito por horas na estrada até evitar a contaminação da equipe na ambulância. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Bruno Ribeiro

Estadão Conteúdo

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