Ivens Rodrigues da Costa, de 69 anos, sentia há alguns dias os sintomas da covid-19. Estava sendo tratado em casa, pelo genro e pela filha, pois não queria recorrer ao superlotado sistema de saúde de Belém. Ainda mais depois de ter passado horas antes por uma experiência ruim em uma Unidade de Pronto Atendimento. Na madrugada de 19 de abril, ao se levantar da cama, perdeu o equilíbrio e tentou se apoiar em um ventilador de pé, que quebrou. A morte de Ivens ocorreu às 5 horas e o corpo só foi levado para o IML 12 horas depois.
“Era meu braço direito. Quando eu precisava viajar, ele cuidava da família”, diz o genro, o sociólogo Angelo Madson. O sogro morava com ele e com a filha havia mais de um ano, na parte de cima de um imóvel em construção na periferia de Belém. Segundo Madson, Ivens teve sintomas da covid-19 por nove dias, sem querer ir a uma UPA. “Com o sistema de saúde em colapso, ele tinha medo de sair de lá direto para o cemitério.” No dia 18, Madson notou que o sogro tinha dificuldade para respirar e as extremidades das mãos estavam roxas.
Mesmo se negando a sair de casa, Ivens foi levado a uma UPA. “Quando chegamos lá não tinha nada. A enfermeira disse que ele precisava de oxigênio com urgência, mas não sabia onde poderia ter em Belém. Deram uma injeção na mão dele para melhorar, não foi me permitido ficar com o documento de atendimento, a enfermeira puxou da minha mão. A prefeitura sabia da debilidade, não queria criar provas contra si.”
Na madrugada do dia 19, após ouvir um barulho no andar de cima, Madson foi verificar o que era e encontrou Ivens morto no chão. Ao fazer o boletim de ocorrência, Madson ouviu dos policiais que o IML estava removendo naquele domingo de manhã os mortos do dia anterior. O corpo só foi retirado da casa às 17 horas. O enterro seguiu o protocolo da covid-19.
“Ele foi enterrado com a bermuda que vestia quando morreu. Não houve tratamento de corpo.” Agora, Madson acredita que também foi infectado e está isolado. A mulher dele testou positivo para covid-19.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belém afirma que vai apurar o que ocorreu na UPA. O IML de Belém esclarece que faz a remoção apenas dos corpos que sofreram mortes violentas. A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Renato Vieira
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