Na última semana, muitos brasileiros foram às lojas para comprar um oxímetro, aparelho que mede o nível de oxigênio no sangue. A corrida aconteceu depois da publicação de um artigo no jornal americano The New York Times, assinado pelo médico Richard Levitan. Com base na sua experiência no atendimento de covid-19, ele recomendava às pessoas medirem saturação de oxigênio no sangue com o uso de um oxímetro para detectar precocemente casos de pneumonia provocada por coronavírus.
Especialistas ouvidos pela reportagem não veem benefício no uso do aparelho por pessoas aparentemente saudáveis para descobrir se foram infectadas pelo coronavírus e apontam o risco de que a utilização acabe causando pânico desnecessário. Pacientes com a covid-19 têm outros sintomas, como febre, dor no corpo, cansaço, dor de cabeça, dor de garganta, antes de apresentarem insuficiência respiratória, explica o médico pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein, José Eduardo Afonso Jr. “Nunca um paciente com covid-19 vai ter como primeiro sintoma a queda na oxigenação no sangue”, diz o especialista.
O pneumologista do Hospital Samaritano, Mauro Gomes, concorda com o colega. “Isso pode fazer com que uma pessoa que tenha um oxímetro em casa, cuja manutenção não esteja boa, constate uma oxigenação baixa e vá desnecessariamente ao pronto-socorro, correndo o risco de se contaminar”, alerta o especialista.
O índice normal de saturação de oxigênio no sangue é acima de 90% a 92%. Mas cai em pacientes graves da covid-19. Gomes, porém, considera um exagero uma pessoa comum comprar um aparelho para monitorar a oxigenação. “O que a gente tem visto são algumas pessoas movidas pelo pânico.” Nesta semana, a Sociedade Brasileira de Pneumologia divulgou comunicado no qual não recomenda o uso irrestrito de oxímetro. A entidade ressalta que não há estudos científicos que indiquem o monitoramento e ressalta que “a decisão sobre usar ou não o aparelho em casa para monitorar o nível de oxigênio no sangue depende do médico”.
Indicações
Gomes diz que o monitoramento da oximetria pode ser indicado para paciente com doenças preexistentes. “É mais uma fonte de informação. Para quem não tem (doença) é uma fonte de confusão”, afirma o especialista.
Abigail do Val, de 77 anos, comprou um oxímetro por recomendação da fisioterapeuta do marido, que tem 86 anos, é cardíaco e teve pneumonia recentemente. Ela mede diariamente o nível de oxigênio no sangue do marido. “Ela nos orientou assim. É mais seguro e, dependendo do resultado, pode ser um sinal.”
A microempresária Ellen Requejo, de 44 anos, comprou um oxímetro depois que leu artigo na imprensa internacional que relatava a baixa oxigenação como um sinal precoce de covid-19.
Ela conta que usa o equipamento para monitorar o pai, que tem 74 anos e tem doença de Parkinson. “Uso o aparelho todos os dias de manhã e à noite com o meu pai”, diz. Ela própria também usa, pois faz algumas semanas que teve alguns sintomas, como dor no corpo, tosse e diarreia e achou que teve contato com o vírus. “Acho que estamos meio ao ‘Deus dará'”, diz Ellen, fazendo referência à falta de soluções para a pandemia.
As lojas especializadas em equipamentos médicos e fabricantes de oxímetro já sentiram os efeitos da corrida para comprar o produto. A loja Gino, que trabalha com produtos hospitalares, vendeu 200 oxímetros no último fim de semana, conta o funcionário Felipe Siqueira. Ontem, a revenda não tinha mais o produto, que custa na faixa de R$ 150. Na concorrente MercadoMed, o produto também acabou na segunda-feira, conta a vendedora Josefa Alves. Ela notou que o produto, antes procurado por profissionais da saúde, agora está sendo vendido para pessoas comuns.
A fabricante de oxímetros Transmai está trabalhando a todo vapor para conseguir entregar os pedidos, mesmo nos finais de semanas e feriados, conta o gerente da empresa, Mauro Tonucci. “As vendas quadruplicaram”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Márcia De Chiara
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