Em meio aos esforços do governo federal para destravar o crédito no Brasil durante o período de pandemia, o saldo das operações bancárias com empresas de menor porte cresceu em ritmo muito inferior ao verificado entre as empresas maiores. Dados do Banco Central mostram que, enquanto o saldo de crédito subiu 9% nas operações com companhias de maior porte, houve alta de apenas 2,1% no caso das menores.
Os dados levam em consideração todo o saldo de operações de crédito realizadas com as empresas, com recursos livres ou direcionados (dinheiro da poupança e do BNDES). O BC classifica como micro, pequenas e médias empresas (PMEs) aquelas com receita bruta anual de até R$ 300 milhões ou ativo total de até R$ 240 milhões. Acima destes valores, as companhias são consideradas grandes.
Em valores nominais, o saldo de crédito para PMEs subiu R$ 11,4 bilhões em março, para R$ 552,5 bilhões. O aumento foi bem inferior aos R$ 81 bilhões de alta entre as empresas maiores, que atingiram saldo de R$ 983,7 bilhões – o maior valor da história.
Os números chamam a atenção porque as grandes empresas são justamente aquelas com maior possibilidade de acessar financiamentos por outros meios, como a emissão de títulos ou o mercado externo.
Em março, segundo o BC, o saldo de crédito por meio de emissão de títulos e operações externas pelas empresas continuou a crescer, o que sugere que os empréstimos feitos pelas grandes companhias em bancos no Brasil representaram um acréscimo de operações.
Dificuldades
No caso das PMEs, que possuem menos alternativas para se financiar por meio do mercado financeiro, os empréstimos bancários também subiram em março, mas em ritmo menor.
“Por terem melhor classificação de risco, as empresas maiores têm mais facilidade para conseguir crédito neste momento”, avaliou a economista Isabela Tavares, especialista na área de crédito da Tendências Consultoria Integrada. Segundo ela, as empresas de menor porte possuem dificuldades para apresentar a documentação necessária. Além disso, elas possuem fluxo de caixa menor, o que eleva o risco de inadimplência em momentos de crise.
“Isso preocupa, porque as empresas mais vulneráveis não têm como se manter por muitos meses”, alerta Isabela Tavares. São justamente as empresas menores que mais empregam trabalhadores no Brasil. “É preocupante que elas não consigam chegar ao crédito”, acrescenta a economista.
Desde o fim de fevereiro, BC e Ministério da Economia têm atuado para manter a liquidez no mercado financeiro e, ao mesmo tempo, a oferta de recursos a empresas de todos os portes. Entre as medidas, está a disponibilização de recursos para os bancos, em valor de R$ 1,2 trilhão. Além disso, o governo lançou uma linha de crédito para pagamento de folha, para empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. A linha tem potencial para liberar R$ 40 bilhões. Na segunda-feira, em nova iniciativa, o Ministério da Economia anunciou a redução da burocracia para a concessão de empréstimos.
No total, o crédito bancário apresentou um aumento de 2,85% em março, na comparação com fevereiro, para um volume total em mercado de R$ 3,587 trilhões. No mês retrasado, estava em R$ 3,487 trilhões. Segundo o BC, foi a maior expansão mensal deste indicador desde setembro de 2008 – quando cresceu 3,68%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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