A pandemia do novo coronavírus escancarou a desigualdade social no Brasil e combatê-la é o principal desafio pós-crise, avaliaram os participantes de painel da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento anual da comunidade brasileira de estudantes em Boston.
O debate, que aconteceu ontem por videoconferência, tinha como tema a Covid-19 e a desigualdade econômica no Brasil, e contou com a participação do apresentador Luciano Huck, do deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES) e da diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia.
Cotado para a disputa da Presidência da República em 2022, Huck reconheceu a gravidade do vírus e disse há risco de que as desigualdades no País sejam ampliadas após a pandemia. “Acho que a melhor arma contra o vírus seria todo mundo alinhado, uma narrativa única ancorada na ciência e na medicina. Não é o que estamos vivendo no momento”, afirmou Huck, em referência aos posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro em relação ao isolamento social – contrários às orientações das autoridades sanitárias e à Organização Mundial da Saúde.
“O real impacto do que acontece agora vai aparecer quando voltarmos à normalidade, com as pessoas enfrentando a falta de crédito, falta de emprego”, diz Huck. “Adoraria que enfrentássemos isso de forma organizada, mas não é nossa realidade. Tenho medo da pressão social pós-pandemia.”
Nascido e criado em favelas e fundador do projeto social Primeira Chance no Complexo da Coruja, em São Gonçalo, no Rio, Douglas Oliveira foi incluído no painel por Huck. Durante a pandemia, ele arrecadou 1,5 mil cestas básicas para doação. “A pandemia mostra que a gente precisa estender nossas mãos uns para os outros.”
Huck disse que o Brasil nunca foi tão solidário e que, como parte da parcela mais rica da população, se sente na obrigação de ajudar. “A elite da qual faço parte sempre foi acusada de passividade. Chegou parte desse 1% fazer parte da solução. Não consigo ver um problema e não achar que faço parte dele.”
“É um momento importante falar de desigualdade. Estamos falando de abismos entre cidadãs e cidadãos”, disse Katia Maia, da Oxfam Brasil. “Nos últimos anos, a riqueza daqueles que já são super-ricos só aumenta, enquanto os trabalhadores têm um volume cada vez menor de recursos.”
Felipe Rigoni propôs que, após a pandemia, o Brasil se esforce em frentes como garantia de renda, saneamento, educação profissional, proteção ao trabalho e assistência social. Para ele, a pandemia deve piorar a desigualdade no Brasil de forma mais acentuada do que outros países.
“O Brasil entrou na pandemia despreparado em muitos sentidos. Isso torna o agravamento (dos efeitos do vírus) pior”, disse o deputado. “A gente vai ter que ter um esforço muito maior para não ter um colapso maior. A desigualdade é o desafio central que o Brasil deve enfrentar. Entramos nessa crise com um Estado fiscalmente desequilibrado. Isso o torna menos capaz de dar respostas fiscais e políticas a esse momento.”
Katia cita ainda elementos estruturantes da desigualdade brasileira que saltam aos olhos no momento da pandemia, como a falta representatividade da população negra e das mulheres na política. Outro elemento importante nesse cenário é tributação, diz a socióloga. “Temos um sistema que contribui para uma injustiça muito grande na forma como é feita a cobrança dos impostos e como o gasto social, o investimento na sociedade, é colocado.”
O painel integra uma programação que tem debatido temas como desenvolvimento econômico, empreendedorismo e startups e desigualdade. Ainda participarão da edição online da Brazil Conference o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), os governadores João Doria (PSDB-SP), Helder Barbalho (MDB-PA) e Renato Casagrande (PSB-ES), entre outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Bianca Gomes e Matheus Lara
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