O pregão de sexta-feira na Bolsa de Valores tinha todos os elementos para ser desastroso, após a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. O Ibovespa caminhava para acionar o circuit breaker, o mecanismo que interrompe as negociações quando a queda passa de 10%, mas por menos de 0,5 ponto porcentual o mercado se arrastou ao longo da tarde.
A expectativa era o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro e, principalmente, o futuro do ministro da Economia, Paulo Guedes. No fim do dia, o recuo de 5,45%, para 75.330 pontos, pareceu pequeno diante dos novos elementos que os investidores terão de lidar a partir desta segunda-feira. Além dos novos casos e mortes causados pela covid-19, será preciso interpretar os rumos da recente crise política que se instalou em Brasília.
“Estamos numa pandemia e numa crise política bastante ruidosas. A economia já teria dificuldade por si só”, diz Alexandre Aoude, sócio-fundador da gestora Vectis Partners. “A minha visão é negativa porque um presidente tresloucado no meio de uma pandemia e de uma crise econômica sem precedentes corre o risco de perder mais ministros de alta qualidade.”
A principal preocupação é com a saída de Guedes. Se o superministro Moro trazia os selos de combate à corrupção e de transparência na atuação do Estado, o superministro Guedes é o guardião do ajuste macroeconômico que ajudará o País a corrigir seus graves problemas estruturais e engatar crescimento e desenvolvimento.
Mas, desde a divulgação do plano emergencial Pró-Brasil, feita pela equipe da Casa Civil chefiada pelo general Walter Braga Netto sem nenhum integrante da equipe de Guedes, os rumores sobre a saída dele aumentaram. Apesar da falta de clareza das medidas para a recuperação da economia brasileira, ficou evidente que o governo quer privilegiar o gasto público e abandonar a seriedade fiscal, algo que contraria as ações do ministro da Economia.
“Com a saída de Sérgio Moro, o dólar para o consumidor final bateu em R$ 7. Isso não teve nada a ver com Guedes”, diz Guto Ferreira, sócio da casa de análise Solomon’s Brain. “O que está sendo precificado pelo mercado é a política, não é a economia.”
Único gráfico que importava. Antes de essa bomba-relógio política ter sido ativada em Brasília, a principal preocupação era com o aumento da curva dos casos confirmados de coronavírus no País. Só o seu achatamento vai determinar o fim da quarentena e a volta, mesmo que gradual, às atividades.
“Se a pandemia for controlada, com o achatamento da curva, a quarentena não vai durar tanto e já teremos uma situação de normalidade parcial em junho”, diz Luiz Fernando Missagia, gestor de renda variável da ACE Capital. “A Bolsa já teve uma melhora após a covid-19, indo de 60 mil pontos para 80 mil porque o número de casos parou de crescer em países de primeiro mundo.”
Como os investidores buscam antecipar os acontecimentos, o gráfico do Ibovespa apresentou queda acentuada em março. Os casos de covid-19 começavam a subir no Brasil, mas o que estava ocorrendo na Europa e Estados Unidos fizeram o indicador mergulhar até os 63.570 pontos em 23 de março. A valorização de quase 27% desse piso até os 80.687 pontos, registrados em 22 de abril, mostrava que o indicador parecia se estabilizar à espera do fim do isolamento. O problema é que uma nova crise interna entrou no radar.
“Ficou pior e mais difícil saber como o Brasil vai sair dessa crise de saúde”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. “Agora, com a preocupação com a covid-19 está o afrouxamento das regras fiscais para recuperar a economia e as reações sobre os próximos movimentos de Paulo Guedes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Márcio Kroehn e Thiago Lasco
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