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Taxas fecham em alta com piora do risco fiscal e rumores de saída de Moro

O mal-estar com o ambiente político se acentuou à tarde, impondo grau ainda maior de inclinação à curva de juros, após a informação, extraoficial, de que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pode deixar o cargo em função da decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Polícia Federal, afastando Maurício Valeixo. A notícia estressou sobretudo a ponta longa, que passou a operar com ganho de 30 pontos em alguns contratos, de cerca de 20 pela manhã, em relação aos ajustes de ontem. Além do ruído político e do ganho natural de inclinação imposto pelo aumento nas apostas de um Copom mais agressivo nos próximos meses, a ponta longa captou ainda o desconforto com crescimento das pressões fiscais em meio à crise do coronavírus, num dia de disparada do dólar e Tesouro Nacional retomando leilões de NTN-F após várias semanas de suspensão e aumentando a oferta de LTN.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a sessão regular em 2,720%, de 2,644% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 subiu de 3,189% para 3,37%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 7,18%, máxima, de 6,802% ontem.

Apesar da melhora do humor no exterior, com a recuperação nos preços do petróleo e expectativa de saída gradual da quarentena das economias centrais, por aqui o clima esteve pesado. “Nosso lado político e fiscal estão fazendo preço, uns dias mais outros menos, mas cada dia vão pesando mais”, disse o trader da Sicredi Asset Cassio Andrade Xavier.

Há percepção de que o ambiente político deteriorado que pode comprometer a agenda de reformas, num momento em que Executivo e Legislativo não se entendem mais. Não por acaso as máximas dos DIs na sessão se deram logo após a notícia sobre Moro, que, se confirmada, é vista como grave. “Se for isso mesmo, pode bater forte na curva. Bolsonaro parece querer trocar muitas peças ao mesmo tempo em plena crise. Está chamando para si um protagonismo que está minando sua estabilidade”, afirmou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, lembrando que o presidente acabou de trocar o ministro da Saúde.

Não passou despercebido ainda que o governo tenha lançado ontem no fim da tarde um programa (Pró-Brasil), que prevê aumento dos gastos para os próximos anos, sem a presença da equipe econômica, com aspiração de ser um “Plano Marshall brasileiro” e com coordenação do ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto. O projeto prevê um incremento de R$ 300 bilhões para infraestrutura.

“Acho até difícil comentar um plano econômico que não tem a participação da equipe econômica. É o que venho falando desde o começo desta pandemia: o governo não consegue dar uma resposta à crise com todos os atores importantes à mesa”, disse a economista e head do escritório Oliver Wyman no Brasil, Ana Carla Abrão, ao se referir à ausência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no anúncio do Plano. “Na verdade, esse plano nem é para ser levado em consideração”, avaliou o diretor executivo da Instituição Fiscal Independente, o economista Felipe Salto.

Dado o estresse do mercado, na precificação da curva de juros, as apostas de corte de 0,75 ponto porcentual na Selic para maio arrefeceram um pouco, mas ainda são majoritárias (60%), ante 40% de chance para queda de 0,5 ponto.

Por Denise Abarca

Estadão Conteúdo

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