Considerado central nos esforços de combate ao coronavírus, o setor de saneamento enfrenta nas últimas semanas um aumento de inadimplência desafiador para o caixa das companhias. Entre as empresas privadas, onde o índice de não pagadores costuma estar em torno de 5%, já se registra uma inadimplência média de 25%. No segmento público, há companhias que lidam com a inadimplência chegando à casa dos 30%. Na média, o número ficou em 21% nos últimos 15 dias.
“A situação é preocupante”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aebse), Marcus Vinícius Fernandes Neves.
Diante do cenário, a crise tem deixado em xeque investimentos no setor. Por enquanto, empresários não reduziram suas estimativas para 2020 frente ao recurso já levantado antes da pandemia. Mas a crescente inadimplência e a falta de espaço para novas captações no mercado tornam o ambiente instável.
De acordo com o diretor-presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Carlos Eduardo Tavares de Castro, o grupo tem discutido com o regulador do setor sobre o aumento na inadimplência. O indicador em abril está na casa de 20%, cinco vezes maior do que é normalmente. “Está impossível prever para onde vai a inadimplência”, disse. A companhia tem negociado com fornecedores a postergação de pagamentos para manter a cadeia funcionando. Os investimentos da Copasa estão estimados em R$ 816 milhões em 2020, crescimento de 31% no ano. “Se a inadimplência ganhar mais relevância, certamente a gente vai ter de revisitar o plano.”
A emissão de dívida, fundamental para financiar projetos, tem sido um desafio. A Copasa está com uma operação para captar recursos, mas avalia condições para lançar ao mercado. O executivo disse não poder dar mais detalhes.
Na mesma direção, a Iguá Saneamento – que presta serviço em Alagoas, Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Santa Catarina – teve de pisar no freio no processo de emissão de debênture (título de dívida corporativa). “Tínhamos tudo pronto. Portarias, autorização do Ministério de Desenvolvimento. A gente ia começar a fazer o roadshow (apresentação a investidores), mas o mercado travou. Provavelmente, receberíamos R$ 1 bilhão no fim de abril para continuar os projetos que a gente tem”, disse o presidente da empresa, Gustavo Guimarães.
Ele afirmou que a inadimplência medida por 30 dias em tempos normais fica na casa de 10% a 15%, indo para 4% depois de mais 60 dias. “Na crise, ela veio para 30% em 30 dias. A gente acredita que esse nível de 4% deve voltar apenas em nove meses”, afirmou. Ele destacou que a empresa, que recebeu aporte em 2018 de R$ 400 milhões dos acionistas, tem caixa para arcar com a parcela própria dos investimentos, mas que precisa do mercado, responsável por financiar cerca de 70% do valor total dos projetos. Entre as saídas, estaria uma linha de crédito com os bancos públicos, mas que não saiu.
Sabesp
O caso do Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) é um pouco diferente. A empresa, sozinha, responde por 25% de todo investimento feito em saneamento no País. “Ainda é cedo para falar do avanço da inadimplência”, disse Rui de Britto Álvares Affonso, diretor da empresa. A tendência de crescimento, entretanto, seria clara. “É um fenômeno que vamos ter de lidar.”
Affonso destacou que a Sabesp tem uma posição confortável para fazer frente aos R$ 3,8 bilhões em investimentos projetados para 2020. “Estamos calejados para enfrentar mais essa crise”, disse, e emendou: “A Sabesp não tem reduções bruscas (na receita). Tivemos quedas de 20% de receita no período da crise hídrica, alta de dólar e passamos sem a necessidade de renegociar dívida”, afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Cristian Favaro e Amanda Pupo
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