Com quase 100% de ocupação de leitos de UTI, o Amazonas improvisa o atendimento de pacientes com a covid-19 e usa até sacos plásticos no lugar de respiradores para estabilizar os doentes. O Estado registrava ontem 2.479 casos de coronavírus e 207 óbitos. A Assembleia Legislativas do Amazonas chegou a pedir intervenção federal, o que foi descartado, por enquanto, pelo Palácio do Planalto.
Na terça-feira, 21, um vídeo que mostra um paciente respirando em uma câmara improvisada e feito de saco plástico repercutiu nas redes sociais. Segundo a Secretaria de Estado de Comunicação, a medida foi adotada como alternativa de assistência enquanto o paciente aguardava transferência para outra unidade. Segundo o governo, a equipe médica da unidade em que isso ocorreu decidiu por conta própria, e com autorização da família, “usar uma técnica experimental não invasiva para mantê-lo estável”. O paciente foi transferido para uma unidade da rede privada.
Outros vídeos feitos por profissionais de saúde e por parentes de pacientes em Serviços de Pronto Atendimento (SPA) de Manaus mostram a revolta da população. Em uma das unidades, o filho de um paciente filmou o pai em um leito e diz que não há funcionários para dar assistência. Em outro vídeo, na mesma unidade, um paciente aguarda em uma cadeira de rodas enquanto os acompanhantes dele batem em portas e gritam em desespero chamando funcionários para socorrê-lo.
Segundo os profissionais de saúde, a doença tem afetado o quadro de servidores no Estado. “Estamos adoecendo e adoecendo nossas famílias”, afirmou Graciete Mouzinho, presidente do Sindicato dos Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem do Amazonas. Até os profissionais de saúde evitam buscar atendimento na rede estadual.
“Muitos ficam em casa”, disse Graciete. Segundo a enfermeira, o risco de infecção é grande. “Se eles ficam na sala rosa (unidade semi-intensiva), onde estão isolados até o fim do plantão, têm de se alimentar ali num local cheio de vírus.” Para evitar contágio, profissionais também improvisam. Alguns compram material de proteção com recursos próprios. “Tem gente levando máscara N95 para casa para lavar e reutilizar.”
A prefeitura de Manaus decidiu contratar contêineres para colocar os corpos das vítimas e evitar contaminação. Também existem registros de óbitos em casa. “Hoje (segunda-feira), dos 106 sepultamentos (no Estado), 36,5% das pessoas morreram em casa. Está se caracterizando certa falência, certo colapso das possibilidades de atender”, afirmou o prefeito Arthur Virgílio (PSDB), em vídeo nas redes sociais.
Em Manaus, o total de sepultamentos só até o dia 21 de abril já era 47% maior do que o registrado em todo o mês de janeiro deste ano, antes do início da pandemia. Foram 905 sepultamentos no primeiro mês do ano, ante 1.330 em abril. Pressionado pelo aumento no número de enterros, o cemitério Parque Tarumã, na capital amazonense, já abre covas rasas.
O aposentado Damião Antonio da Silva, de 80 anos, morreu na terça-feira e foi enterrado em uma vala comum, com caixão lacrado. “Eles alegam que está sobrecarregado”, disse Leydianne Silva, de 31 an os, sobrinha de Damião. “Só no momento que nós estávamos lá, contamos mais de 30 caixões. São enterrados de cinco em cinco, por vala. Fizeram uma tenda branca e ficam muitas pessoas debaixo da tenda, aguardando o enterro”, relatou Leydianne.
Intervenção
O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, afirmou ontem que o presidente Jair Bolsonaro recebeu pedido de intervenção federal no sistema de saúde do Amazonas. Consultado sobre a possibilidade, porém, o governador Wilson Lima (PSC) disse que a situação está sob controle, o que fez o Palácio do Planalto descartar intervir no Estado. A solicitação havia sido aprovada na segunda, pela Assembleia Legislativa amazonense e foi levada a Bolsonaro pelo líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).
Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, Lima afirmou ao ministro que não há necessidade de intervenção e que o requerimento de deputados estaduais envolve questões políticas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Júlia Lindner, Tânia Monteiro, Felipe Frazão, Rosiene Carvalho e Célio Andrade Silva, especial para o Estado
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