O dólar subiu 1,90% e fechou a quarta-feira, 22, em nova máxima histórica, cotado em R$ 5,4087. O real destoou de outras moedas emergentes, que ganharam força ante a moeda americana hoje, e teve o pior desempenho em uma cesta de 34 divisas internacionais. O principal fator para a disparada do dólar hoje, de acordo com analistas de câmbio atribuem, é a consolidação da visão que o Banco Central vai cortar os juros de forma mais agressiva nos próximos meses, além de um ajuste nos preços por conta do feriado aqui ontem, enquanto o mercado externo operou e o dólar se fortaleceu com a queda livre das cotações do petróleo. No mercado futuro, o dólar para maio bateu em R$ 5,45 no final da tarde.
O BC fez intervenção no mercado de câmbio hoje no horário que vem fazendo regularmente, entre 15h30 e 16 horas. A oferta inicial foi de US$ 500 milhões de swap cambial (venda de dólar no mercado futuro), mas desse total só foi vendido US$ 330 milhões, um sinal de que o mercado pode estar querendo mais dólar à vista, segundo um gestor de multimercados. A ação do BC levou o dólar a cair abaixo de R$ 5,40 por algum tempo, recuando a R$ 5,38, mas a moeda americana voltou a acelerar a alta e a superar este nível logo depois.
“Especulações sobre cortes de juros estão pressionando o real”, avalia a analista de moedas do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger. Ela menciona que a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil vem sendo constantemente revisada para baixo e ainda declarações de dirigentes do BC reforçam essa visão de corte maior. Hoje, o banco Fibra passou a prever queda de 6% no PIB este ano e a Fitch Ratings espera contração de 4%. Nos juros, entre os bancos, o ASA Bank passou a prever corte de 1 ponto porcentual em maio e o Barclays elevou sua estimativa de redução de 0,50 ponto para 0,75.
Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, o movimento de hoje no câmbio foi em maior parte interno, com a curva futura de juros passando a precificar cortes mais intensos da Selic. Este movimento ganhou força, ressalta ela, após México e Turquia reduzirem suas taxas ontem em reuniões extraordinárias. Isso ajudou a aumentar a aposta aqui, de um corte maior na reunião de maio ou mesmo antes, de forma extraordinária. Por isso, o real teve desempenho hoje pior que seus pares.
A analista do Banco Ourinvest destaca que também não contribui para a melhora do real o clima político. Além do comportamento recente de Jair Bolsonaro, trocando farpas com o Congresso e indo a manifestações, ela ressalta que falta um plano nacional sobre como sair da quarentena.
Por Altamiro Silva Junior
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