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Desemprego em Estados-chave cresce e Trump decide suspender imigração

O presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou a suspensão por 60 dias da emissão de “green cards” – o documento de residência permanente concedido a estrangeiros. Com o aprofundamento da recessão, em meio à pandemia de coronavírus, ele decidiu ainda proibir temporariamente a entrada de imigração.

A justificativa é de que é preciso garantir que americanos que estão desempregados tenham lugar no mercado de trabalho quando a economia voltar a funcionar. “Milhões de americanos sacrificaram seus empregos, temos o dever de assegurar que consigam recuperar seus trabalhos”, disse Trump.

Com a campanha à reeleição fundamentada no sucesso da economia, Trump vê sua candidatura ameaçada pelo número crescente de desempregados. Na semana passada, novos dados mostraram que a situação é pior em Estados-chave para a vitória em novembro. No último mês, 22 milhões estavam sem emprego, o que representa 14% da força de trabalho.

Em Michigan, onde Trump ganhou por apenas 10 mil votos de Hillary Clinton, em 2016, o cadastro de novos desempregados representa 21% dos trabalhadores do Estado. Na Pensilvânia, 19,8% dos trabalhadores se registraram como desempregados. Em Nevada e Ohio, também cruciais no xadrez eleitoral, as taxas foram de 19,3% e 14,6%, respectivamente, ambas acima da média nacional.

Segundo Trump, a suspensão das emissões de “green cards” por 60 dias pode ser estendida e novas medidas para conter a imigração podem ser adotadas. Não está claro, no entanto, como as medidas do presidente recolocarão no mercado de trabalho os que perderam emprego.

Trump mantém para seu eleitorado, contudo, o discurso de que tem feito tudo o que está ao seu alcance para minimizar as consequências da recessão. Como parte dessa estratégia, ele tem também pressionado os governadores a relaxar as medidas de isolamento e reativar a economia.

Na segunda-feira, Trump escreveu em sua conta no Twitter que assinaria uma ordem executiva para “suspender temporariamente a imigração para os EUA”. Os técnicos do governo, pegos de surpresa, passaram o dia de ontem tentando redigir a medida.

Trump negou que esteja usando a pandemia como justificativa para avançar com uma política anti-imigração. “Não, não. Quero que as pessoas neste país tenham emprego. Temos uma situação inusual. Quero que os americanos estejam aptos a conseguir empregos, não quero competição”, disse Trump. “Os fazendeiros não serão afetados.”. O setor rural é um importante eleitorado dele.

Inicialmente, Trump planejava restringir também os programas de trabalho para visitantes, o que afetaria a permanência de trabalhadores agrícolas, especialistas em alta tecnologia e outros tipos de visto especial de trabalho. Segundo o New York Times, no entanto, ele voltou atrás depois de receber reclamações do empresariado, que teme a perda de parte da força de trabalho.

Recuo

O anúncio acabou tendo uma extensão menor do que Trump sugeriu no Twitter, mas tem o potencial de prejudicar trabalhadores e parentes que já vivem nos EUA ou estão no processo de obtenção da residência. No ano passado, cerca de 1 milhão de pessoas obtiveram o “green card”. De acordo com o New York Times, a ordem de Trump não afeta todos os casos, pois trabalhadores considerados essenciais, como os da área de saúde, continuarão a ter acesso à residência permanente.

Durante a pandemia, o governo já vinha limitando a concessão de visto e restringido a entrada de imigrantes com pedido de asilo. O discurso anti-imigração foi pilar da campanha de Trump em 2016. Na prática, o governo vem desmontando os instrumentos de imigração legal e dificultando o fluxo de trabalhadores estrangeiros.

Cerca de 60% dos americanos veem com bons olhos a imigração. Mas, quando questionados sobre políticas de imigração, 30% responderam ao instituto Gallup, em 2019, que gostariam que o fluxo de imigrantes crescesse, enquanto 31% disseram que gostariam que o nível diminuísse e 37% disseram que gostariam que o patamar continuasse como estava.

Segundo o Migration Policy Institute, ao menos 6 milhões de imigrantes trabalham na linha de frente dos serviços prestados durante a pandemia, sejam em serviços de saúde ou outros, como setor de alimentos e entregas. O sistema de saúde dos EUA precisa do trabalho de imigrantes, que são cerca de 30% dos médicos e 23% dos farmacêuticos.

Quase 12 mil empregados da área de saúde possuem uma permissão temporária de permanência (TPS, na sigla em inglês), concedido normalmente a países que sofreram desastres naturais, como El Salvador, Honduras e Haiti. Trump também tem tentado reverter a permanência de parte dos que possuem TPS, com a ameaça de jogar imigrantes nestas condições na ilegalidade, mesmo que eles vivam há mais de duas décadas nos EUA.

Por Beatriz Bulla, correspondente

Estadão Conteúdo

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