Categories: Economia

‘Momento agora é de olhar para a ciência’

Conforme a pandemia avança no Brasil, a diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, afirma que é o momento de olhar cuidadosamente o que aconteceu em outros países. Segundo ela e as principais autoridades mundiais, o objetivo deve ser o de achatar a transmissão, evitar picos de contaminação e não exercer pressão no sistema de saúde.

“Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto”, disse a jornal O Estado de S. Paulo a única brasileira na cúpula da instituição que lidera a luta mundial contra a pandemia. “Políticas públicas precisam estar baseadas em evidência científica mais do que nunca.”

Qual a avaliação do cenário da pandemia no Brasil?

À medida que a pandemia vai progredindo e o número de casos vai aumentando no Hemisfério Sul, é o momento de se olhar muito cuidadosamente o que aconteceu em outros países. No Brasil, o Ministério da Saúde está sendo transparente em relação a isso, está em uma etapa de subida da transmissão comunitária. O objetivo do sistema de saúde, de achatar a curva da transmissão de casos, pode fazer com que não haja um pico tão grande dessa transmissão para não colocar muita pressão no sistema de saúde. O Brasil aparenta estar ainda na fase de ascensão do número de casos.

O que se pode vislumbrar pelas próximas semanas?

Como vai progredir depende muito das medidas tomadas. Essa é a hora de olhar para os outros países e ver o que está dando certo. A gente observa que nos locais onde não houve distanciamento social no momento oportuno, houve um pico grande e o sistema de saúde sofreu bastante. Itália e Espanha, por exemplo. No caso da Suíça, que fez uma contenção precoce da movimentação de pessoas, já falam em abrir gradativamente, buscando retomar de maneira escalonada a atividade econômica. É um país que tomou medidas de contenção da movimentação das pessoas e, ao mesmo tempo, fez um grande esforço para testar os casos suspeitos, identificar os contatos e isolá-los.

O caminho então é o distanciamento social, quarentena?

Não é o caso de uma opinião aqui – é uma questão científica. Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto. Mas medidas de distanciamento social têm de estar acopladas a medidas de identificação dos suspeitos e dos contatos. As duas coisas têm de caminhar juntas. E também é preciso mudança no hábito das pessoas. Não é só fechar o comércio. É evitar o aperto de mão, aglomerações, abraços, e lavar as mãos reiteradamente com água e sabão. São todas as medidas juntas.

Existe muita desinformação sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Como lidar?

É um momento em que não se pode estar respaldado em opiniões de pessoas. O mundo precisa olhar com atenção para o que a ciência está dizendo e usar a ciência para ajudar as pessoas nesse período difícil.

Há muitos esforços sendo feitos em todo o mundo em busca dessa vacina. Fala-se em 12 a 18 meses. É por aí mesmo?

Em condições normais, uma vacina pode demorar de seis a dez anos. A estimativa de um ano, um ano e meio, é extremamente otimista porque há um enorme esforço global.

Sobre tratamentos, alguns líderes como o presidente Jair Bolsonaro defendem a cloroquina…

Todo mundo gostaria muito que uma droga que não está sob patente e tem muitos produtores no mundo pudesse provar que é efetiva contra o vírus. É importante dizer que quando alguém fala que está pesquisando e ainda é in vitro, quando você mistura na plaquinha ela pode funcionar contra o vírus. Mas entre as pesquisas no laboratório e o uso em seres humanos há uma diferença enorme. Quando você aplica em gente viva, pode ter efeitos colaterais. Até o momento, não há nenhuma investigação robusta para nenhuma droga.

É importante deixar claro qual é exatamente o papel da OMS nesse momento…

A OMS é uma organização de países-membros. Ela não pode interditar um país ou entrar sem ter autorização. Faz recomendações técnicas, aprova resoluções, monitora e cabe a cada país fazer a implementação. A cada vez que se tem uma pandemia, se torna mais aguda a necessidade de haver uma forte preparação para epidemias globais e o reforço da estrutura da OMS… Reproduzo uma fala do Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Ele colocou muito bem que o pesadelo da saúde pública sempre foi um vírus altamente transmissível para o qual não houvesse vacina nem tratamento e com letalidade razoável, não controlável. E esse é o vírus respiratório que está acontecendo agora. É o pior cenário que você tem. Por isso a necessidade de haver uma boa estrutura global e estruturas nacionais para preparação dos países para enfrentamento de situações como a atual.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Paulo Beraldo

Estadão Conteúdo

Recent Posts

País pode virar referência em pagamentos internacionais com uso de cripto, dizem especialistas

O Brasil tem a oportunidade de ser referência em pagamentos internacionais, assim como já é…

22 horas ago

Deputado do agro quer comissão externa para ‘colocar dedo na ferida’ do Carrefour

Lideranças do agronegócio estão indignadas com a decisão do Carrefour de boicotar a carne do…

23 horas ago

Federação de Hotéis e Restaurantes de SP organiza boicote ao Carrefour

A Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) convocou empresários…

2 dias ago

Gol anuncia nova rota semanal entre Curitiba e Maringá

A Gol Linhas Aéreas anunciou o lançamento de uma nova rota que liga Curitiba (PR)…

2 dias ago

Governo de SP prevê R$ 1,3 bi em segurança viária para concessão da Nova Raposo

A concessão rodoviária do Lote Nova Raposo (São Paulo) vai a leilão na próxima quinta-feira,…

2 dias ago

Petróleo pode cair de US$ 5 a US$ 9 em 2025 com grande oferta e problemas da demanda

O preço do barril do petróleo tipo Brent tende a cair de US$ 5 a…

2 dias ago