Os juros futuros destoaram, durante boa parte da sessão, da melhora do humor no exterior e do comportamento mais tranquilo dos demais ativos domésticos, tendo operado numa dinâmica própria, com taxas em alta. Na última hora da sessão regular, o ritmo de avanço, porém, esmaeceu e as taxas fecharam o dia de lado, com o dólar se firmando em baixa. O aumento do desconforto com o cenário político serviu de contraponto aos bons ventos externos, que estiveram amparados na perspectiva de descoberta de um remédio contra a covid-19, em dados da China e expectativa pela saída gradual dos Estados Unidos do processo de isolamento social. No entanto, na semana marcada por forte perda de inclinação da curva os principais contratos tiveram alívio importante nos prêmios de risco.
A trajetória ascendente das taxas, contudo, se deu em um ambiente de liquidez reduzida. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 3,040%, de 3,057% ontem, e a do DI para janeiro de 2022 passou de 3,67% para 3,64%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,90%, de 6,952%.
Desde o começo da semana, a expectativa em torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento de Guerra vinha sustentando sucessivas quedas na ponta longa, a despeito do aumento dos riscos fiscais e dos ruídos políticos. A PEC permitirá ao Banco Central comprar e vender títulos públicos e privados em mercados secundários. Porém, nesta sexta-feira, com os ânimos mais acirrados entre o Executivo e Legislativo, a PEC, que foi aprovada hoje em segundo turno pelo Senado e voltará a ser apreciada na Câmara, não conseguiu produzir o mesmo efeito.
“O ambiente externo foi favorável para redução de prêmio, mas domesticamente o noticiário político não ajudou, com a demissão de Mandetta e aumento das tensões entre Rodrigo Maia e o presidente Jair Bolsonaro, resultando em maior polarização”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Segundo a Folha de S.Paulo, Bolsonaro tem dito a parlamentares que recebeu um dossiê com informações de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador João Doria (PSDB-SP) e uma ala do Supremo Tribunal Federal (STF) têm um plano para dar um golpe de Estado.
O Legislativo tem atuado na contramão dos interesses do governo ao aprovar o plano de socorro aos Estados com base na arrecadação do ISS e ICMS e hoje o Senado retirou da pauta a Medida Provisória (MP) do contrato Verde Amarelo, devendo deixar o texto caducar. A MP perderá a validade se não for votada pelos senadores até segunda-feira (20).
Na avaliação de Rostagno, o temor do mercado é de que os conflitos, que estão cada vez mais abertos, levem o Congresso para o caminho do populismo, colocando em risco a retomada da austeridade fiscal no pós-crise. “O Congresso vem impondo derrotas para o governo, há preocupação com o progresso na agenda de reformas”, disse.
Por Denise Abarca
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