O afastamento social por causa da covid-19 provocou a redução das atividades em São Paulo, reduziu o volume de carros e de pessoas em circulação nas ruas, paralisou até o aeroporto de Congonhas e derrubou os índices de ruídos na cidade. Com isso, os paulistanos passaram a conviver com sons diferentes.
De acordo com medição do volume de ruído nas ruas esvaziadas, a capital tem hoje pontos, antes reconhecidamente barulhentos, registrando 61 decibéis (dB), dez a menos do que o costume. É o caso da área do Masp, na Avenida Paulista, uma das regiões de altos índices de ruído da cidade.
“Aqui, neste ponto perto do Masp, está dando menos 10 dBs”, diz Marcos Holtz, vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade Acústica (ProAcústica), ao medir o impacto sonoro na manhã de quinta-feira, dia 9.
“Aqui chega a ter 71, 72 dBs, e agora temos redução de 10 dBs com a diminuição do tráfego pela quarentena”, diz Holtz. Ele explicou que essa redução provoca “uma sensação de o som ter caído pela metade nas ruas”.
Lembra ainda que São Paulo é uma cidade barulhenta. “Na Paulista, quando tem show, chega a dar 100 dBs.” A entidade se prepara para o Dia Internacional da Conscientização Sobre o Ruído, no dia 29, e vai lançar a campanha Sons que Amo.
Moradora da região há 20 anos, Graziele do Val, que vive a uma quadra do Masp, afirmou que a região “é sempre barulhenta”. Contou que são diversos tipos de ruídos juntos. “A gente convive com barulho de carros, gente, shows, obras, passeatas, tudo junto”, diz. Nestes dias de isolamento da covid-19, porém, segundo ela, o som mudou. “São dias com silêncio que só tivemos aqui em duas ocasiões nos últimos anos”, conta. Ela citou o dia 8 de julho de 2014, quando a seleção foi goleada por 7 a 1 pela Alemanha, e outro episódio, de maio de 2006, quando o PCC ameaçou a cidade com onda de atentados.
Outros sons
O físico Marcelo Aquilino, professor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, especialista em conforto acústico e soluções tecnológicas para a construção civil, afirma que “é notória a redução” dos sons na cidade. “Neste momento de quarentena, outros sons começam a aparecer.”
Para o físico do IPT, os paulistanos começam a perceber, em suas casas, outros sons. “Ouvem o som dos pássaros, de obras, de vizinhos, diversos sons diferentes que estavam mascarados pelo tráfego”, explicou. “Quando você silencia uma fonte de ruído, como está acontecendo nesses dias de afastamento social, outra passa a ser percebida”, conta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Pablo Pereira e Léo Souza
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