Em uma segunda-feira de baixo volume de negócios, o dólar voltou a subir, após ceder 4,3% na semana passada, em quatro sessões seguidas de baixa. Em dia de feriado na Europa e aumento da aversão a ativos de risco nos Estados Unidos, com investidores realizando ganhos recentes em pregão marcado por aumento da cautela, o dólar chegou a superar os R$ 5,20, levando o Banco Central a intervir novamente no mercado, injetando US$ 500 milhões por meio de contratos de swap (venda de dólar no mercado futuro). Na parte da tarde, o ritmo de alta perdeu um pouco de fôlego, mas a moeda americana ainda terminou com ganho de 1,75%, a R$ 5,1833.
O dia foi ruim para moedas emergentes no exterior, mas operadores também ressaltam que pesou um pouco o cenário político local, com a continuidade da relação complicada entre o Governo e o Congresso e entre o Planalto e o ministério da Saúde.
Um gestor ressalta que preocupações com aumento de gastos públicos e dúvidas sobre o pacote de ajuda a Estados e municípios também tiveram influência, tanto que o real foi uma das divisas com pior desempenho nesta segunda no mercado internacional, junto com a lira turca e o peso mexicano. Na tarde desta segunda-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o pacote de socorro terá alguns limites para evitar total descontrole fiscal.
“Há um sentimento de forte incerteza no exterior, refletindo a pandemia do coronavírus”, afirma o diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer. Ele destaca que agora começa a temporada de balanços corporativos nos Estados Unidos e será possível ver os primeiros impactos da crise nas operações e finanças das empresas. O clima é de pessimismo com os números trimestrais, acrescenta ele. Com isso, o dólar caiu ante divisas emergentes de forma generalizada.
O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, destaca que o mercado financeiro começa a oitava semana de muita volatilidade nos ativos. “As razões para este ambiente são as mesmas. Há muitas dúvidas sobre a dinâmica da pandemia no mundo. Investidores estão muito cautelosos sobre a intensidade da contração mundial”, afirma em um áudio a clientes do banco. O reflexo é aversão a risco em alta, pressionando o dólar no mundo e no Brasil, destaca ele.
O Peterson Institute for International Economics (PIIE), centro de pesquisas e estudos de Washington, prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve encolher 6% em 2020 por causa da pandemia. A economia mundial deve ter contração de 3,4% e a dos Estados Unidos, cair 8%. “A pandemia está levando o mundo para uma recessão que é muito mais profunda que a registrada após a crise financeira mundial (de 2008)”, ressalta a economista da instituição e da universidade de Harvard, Karen Dynan.
Por Altamiro Silva Junior
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