O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira, 9, em entrevista por videoconferência ao portal UOL, que a instituição já anunciou a liberação de cerca de R$ 1,2 trilhão para os bancos, para combater os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre o sistema financeiro. Ele pontuou, no entanto, que boa parte do valor ainda não foi usada pelas instituições.
“Comparando com o que foi feito em 2008, há um enorme potencial”, disse Campos Neto, em relação à liberação de recursos para as instituições.
O BC vem destacado que os R$ 1,2 trilhão já anunciados representam 16,7% do PIB. Na crise financeira de 2008, foram R$ 117 bilhões (3,5% do PIB).
O presidente do BC reconheceu ainda que o fato de o BC ter atuado na liquidez não significa que “o dinheiro vai chegar na ponta rapidamente”. Questionado sobre o “empoçamento de recursos” nos bancos, denunciado por vários setores do empresariado, Campos Neto afirmou que o BC tem o objetivo de mostrar o que, de fato, está sendo empoçado ou não.
Ele destacou ainda que, com a crise, as empresas estão começando a atrasar o pagamento de contas de luz e contas de aluguel, por exemplo. Isso, segundo ele, impacta no risco das operações de crédito. “Atraso em contas de luz e aluguel entram no risco do banco”, afirmou.
PIB
O presidente do Banco Central ponderou que, antes da crise provocada pelo novo coronavírus, os dados de janeiro e fevereiro apontavam para um crescimento próximo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “Não veríamos crescimento espetacular em 2020, mas caminhávamos para 2%”, afirmou Campos Neto.
Recentemente, em outro pronunciamento público, Campos Neto afirmou que, com a crise, o PIB tende a ser negativo em 2020.
Campos Neto também fez na entrevista desta quinta um histórico sobre a os efeitos da crise sobre a economia brasileira. Ele pontuou que, em fevereiro, o BC fez a primeira liberação de depósitos compulsórios para os bancos, para elevar a liquidez no sistema. “Fomos o primeiro banco central a liberar”, disse.
Imprimir dinheiro
O presidente do Banco Central disse ainda não ser favorável à emissão de moeda para financiar os gastos do governo no combate à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A ideia de “imprimir dinheiro” na situação de crise atual foi defendida recentemente pelo ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles em entrevista ao canal de notícias BBC News Brasil e ganhou as rodas de debate nos últimos dias.
“Não sou favorável. O argumento de que eu vou imprimir dinheiro porque a inflação está relativamente baixa é um argumento perigoso, porque se nós temos um sistema de metas de inflação e ele tem assimetrias, se você imaginar que quando está em baixa você vai imprimir dinheiro para chegar na meta, você vai fazer com que em termos de valores esperados seu equilíbrio de juro neutro seja um pouco mais alto”, justificou Campos Neto. “Eu acho que a saída não é por aí. É uma ideia, sempre a gente discute todas as ideias, mas hoje, e obviamente tudo pode ser modificado dependendo do que aconteça, mas hoje nós não entendemos que é a melhor saída não”, afirmou.
Maquininhas
O presidente do Banco Central disse também que uma das ideias atualmente em estudo no Ministério da Economia é a de distribuir crédito para empresas de menor porte por meio das maquininhas de cartão. Outra ideia, segundo ele, é a possibilidade de uso do banco de dados da Receita Federal para se chegar até essas empresas.
Sem citar uma data, Campos Neto afirmou ainda que, “em breve”, o governo deve fazer um anúncio com foco nas empresas de menor porte.
Entre as medidas já anunciadas, o governo liberou crédito de R$ 40 bilhões, por um prazo de dois meses, para empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano pagarem suas folhas de pagamento. O custo do empréstimo é de 3,5% ao ano. “Entendemos que era importante fazer o programa de ajuda primeiro para pequenas e médias empresas”, disse Campos Neto.
Questionado se haveria ajuda para os Microempreendores Individuais (MEI), Campos Neto citou as discussões que estão sendo feitas hoje no governo, de programas que atendam negócios menores.
Para as grandes empresas, ele afirmou que o auxílio está sendo desenhado pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano. “Está sendo desenhado pelo Montezzano o fundo garantidor de crédito. E tinha outro modelo de participação em ações”, disse Campos Neto, sem entrar em detalhes.
Por Fabrício de Castro e Idiana Tomazelli
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