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Apesar de restrição, cresce movimento em ônibus de SP

Apesar das recomendações de isolamento social como forma de reduzir a contaminação pelo novo coronavírus, já é possível ver fluxo maior de veículos e pedestres nas ruas de São Paulo. A capital paulista registrou aumento da circulação de passageiros no transporte público. Ontem, as linhas de ônibus da capital tiveram 810 mil passageiros a mais do que o registrado há dez dias, em 27 de março, quando a quarentena ainda não havia completado uma semana. Em relação aos trens e ao Metrô, também houve crescimento.

Diante da maior procura, a Prefeitura aumentou a frota e colocará, a partir desta quarta-feira, 8, 424 ônibus a mais nas ruas. É a primeira vez, desde que a circulação de pessoas caiu, que a SPTrans voltará a empregar mais da metade da frota. Até sexta, havia aumento de 360 mil pessoas nos ônibus, em relação à sexta anterior. Os veículos adicionais serão distribuídos em 196 linhas, de todas as regiões. A companhia disse, em nota, que as linhas foram definidas “após análise de oferta e demanda realizada pelos técnicos”, verificando índices de ocupação.

O aumento no número de passageiros também foi identificado em outros tipos de transporte, como metrô e trem, embora a variação seja pequena. Segundo a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos (STM), o Metrô operou ontem com cerca de 20% da demanda de passageiros.

Já a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) teve 27% dos passageiros e as linhas de ônibus intermunicipais tiveram 28%, ante períodos de atividade normal, sem restrições. Houve uma variação de 1% a 2% no número de passageiros em uma semana. Isso significa que Metrô, CPTM e linhas intermunicipais tiveram um aumento de 83 mil a 166 mil passageiros no período.

As companhias informam que tomaram medidas para reduzir as chances de contágio do coronavírus. “Os terminais de ônibus com grande movimentação de pessoas contam com marcações no chão para delimitar o espaço das filas e evitar aglomerações”, diz a SPTrans. “A operação é monitorada a cada hora, sobretudo em horários de pico, e quando constatada a necessidade de mais trens na linha, eles são imediatamente injetados para não ocorrer aglomerações”, informa a STM.

Preocupações

A quantidade de pessoas que circulam na cidade está diretamente relacionada com a probabilidade de novos casos de coronavírus. Segundo o governo estadual, o Estado pode precisar de novos leitos caso o número de pessoas em isolamento se mantenha na média atual. “Se nós conseguirmos aumentar o distanciamento social, que estava em média de 54%, para 70%, o número de leitos disponíveis no Estado de São Paulo será suficiente para essa primeira onda epidêmica”, explicou ontem o coordenador do Centro de Contingência para a Covid-19 no Estado de São Paulo, David Uip.

Como mostrou ontem o jornal O Estado de S. Paulo, dados de geolocalização de celulares também mostram que mais pessoas passaram a circular em São Paulo na última semana. De 23 de março a 2 de abril, o isolamento na capital foi de 66% dos paulistas a 52,4%, segundo a projeção feita por um estudo do Instituto Butantã e da Universidade de Brasília (UnB). O estudo mostra que, desde o início da quarentena, o isolamento atingiu o nível mais baixo na última sexta. Foi a primeira vez que mais da metade dos paulistas foram às ruas – só 47% ficaram em casa.

Movimento

Nesta terça-feira, por volta das 18 horas, era possível ver gente pelas ruas de bairros da zona oeste, como Vila Romana e Vila Madalena, e também do centro. O fluxo mais intenso era de carros, mas pelas ruas andavam também pessoas com sacolas de supermercado, gente passeando com cachorro e praticando atividade física. As maiores aglomerações estavam nos pontos de ônibus, que chegavam a reunir até 13 pessoas.

Duas mulheres que aguardavam um ônibus no terminal Vila Madalena, afirmaram ter voltado ao trabalho após 15 dias – sua empregadora decidiu retomar o trabalho. Elas, que pediram anonimato, são funcionárias da recepção e da limpeza de um consultório de psiquiatria, e dizem que tiveram de assinar um termo afirmando que irão trabalhar dia sim, dia não, recebendo metade do salário.

Na Avenida Doutor Arnaldo, o florista Denilson Domingues, que trabalha lá há 15 anos, não tem aberto seu comércio, mas também não deixou de ir ao local. “Venho para dar uma geral na banca, cuidar das flores. Porque senão, a perda seria total.”

Já o advogado Arthur Costa, que pegava o metrô por volta das 18 horas, não hesitou quando questionado sobre o motivo que o levava às ruas: “Porque eu quero”. Ele diz que tem respeitado o isolamento social, mas admite que deu uma “escapadinha” para cortar o cabelo. E comprou uma latinha de cerveja, que tomou andando pela rua. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Tulio Kruse e Fernanda Boldrin

Estadão Conteúdo

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