A aversão ao risco no exterior manteve elevado o nível de inclinação na curva de juros até o fim da sessão. A ponta curta encerrou o dia com viés de baixa e os demais vencimentos subiram, com destaque para os longos que tiveram alta em torno de 25 pontos-base ante os ajustes de ontem. O pessimismo sobre os estragos da pandemia de coronavírus na economia global cresceu após o payroll de março ter mostrado saldo líquido negativo de 701 mil vagas nos Estados Unidos, penalizando ativos de risco em geral, sobretudo nos países emergentes. O aumento do ruído político, dizem os profissionais, traz desconforto, mas não é visto como principal fator a explicar a empinada da curva, que está mais ligada ao exterior e preocupações com o cenário fiscal.
No fim da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 caiu de 3,203% para 3,175% e a do DI para janeiro de 2022 fechou em 4,12%, de 4,051% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,00%, de 7,752% ontem. Na semana, a curva também ganhou inclinação, com os juros de curto e longo prazo, de forma quase que espelhada, fechando com queda e alta em torno de 30 pontos-base, respectivamente, ante os níveis de encerramento da sexta-feira passada.
As taxas até ensaiaram queda na parte da manhã, mas na medida em que a tensão pós-payroll crescia e o dólar renovava máximas, o movimento se esvaiu e só os DIs curtos conseguiram se sustentar em baixa até o fim do dia. A perspectiva de um período de recessão mais prolongado sustenta apostas em corte mais firme da Selic, ancorando os contratos a vencer em até 12 meses. A expectativa de reduções na taxa se dá na esteira da onda de revisões em baixa para o PIB este ano. Nesta sexta-feira foi a vez do UBS, que atualizou sua projeção de alta de 0,5% para queda de 2,0%.
Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, os modelos econométricos, neste momento, autorizam o Banco Central (BC) a reduzir a taxa para 2% ao ano, mas a previsão da instituição é que a Selic fechará 2020 em 3%.
Os vencimentos longos, que naturalmente já tendem a ficar mais pressionados pela expectativa de um Copom agressivo no curto prazo, foram ainda afetados pelo ‘sell off’ no exterior. “Quando barata voa, castiga a ponta longa”, lembrou um gestor. Para ele, o cenário político não ajuda, mas não é o que explica o “grosso” do movimento hoje. “Temos abertura de curvas em vários países da América Latina e o CDS de cinco anos do Brasil hoje avançando quase 20 pontos (para 354 pontos)”, explicou.
Mesma avaliação tem o diretor do Asa Bank, Carlos Kawall. “Os modelos têm mostrado que a maior parte do movimento é da aversão a risco global e de alguma preocupação com a manutenção do ajuste fiscal estrutural. Não acho que é risco político”, disse. O economista lembra que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez várias conferências essa semana prevendo o avanço das medidas emergenciais e em especial a PEC do Orçamento de Guerra. “Apesar do ruído político, não há paralisia ou crise institucional”, afirmou Kawall.
Contato: denise.abarca@estadao.com
Por Denise Abarca
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